REVIEW: Artillery – “Fear of Tomorrow” (Relançamento 2020)

 


Artillery – “Fear of Tomorrow”

Lançado originalmente em 9 de agosto de 1985

Voice Music / Rock Brigade Records – NAC. – 41min. 


O guitarrista (e ex-roadie do Mercyful Fate) Jørgen Sandau e o baterista Carsten Nielsen estavam na casa dos 20 anos quando, inspirados pela música “Heavy Artillery” dos ingleses do Tank, formaram o Artillery em 1982. Foram necessários três anos e quatro fitas demo para que o grupo, completado pelos irmãos Michael (guitarra) e Morten Stützer (baixo) encontrasse em Flemming Rönsdorf o vocalista ideal e obtivesse reconhecimento além dos subúrbios ferroviários de Copenhague, Dinamarca. 


A estreia em disco do quinteto, lançada pela Neat Records em agosto de 1985, repete o nome da demo divulgada poucos meses antes: “Fear of Tomorrow”. Passados 35 anos, a bolacha, hoje detentora de um status de cult combinado com uma merecida vaga entre os precursores do thrash metal, volta ao mercado brasileiro de CDs como parte da série Rare Archives, fruto da parceria entre Voice Music e Rock Brigade Records, trazendo pôster exclusivo 36cm x 36cm e encarte com letras, fotos e o mais legal de tudo: um scan da resenha assinada por Wilson Dias Lúcio publicada numa edição da Rock Brigade de 35 anos atrás na qual o autor demonstra empolgação e grandiloquência ao descrever a banda como “mortífero projétil incandescente”.


A capa traz o que parece ser um assassino de aluguel, encapuzado e mascarado, recarregando sua pistola com silenciador. Se a ideia era que houvesse diálogo entre forma e conteúdo, o mais indicado seria John Rambo com sua metralhadora de munição infinita estraçalhando birmaneses em alto e bom som na sequência final do quarto filme da franquia. Sutileza não é um adjetivo que caia bem ao Artillery; seu ataque é sonoro, latente, impiedoso e ideal para quem deseja exorcizar as agruras de um dia estressante no trabalho golpeando um saco de pancadas até os nós dos dedos começarem a doer. A título de comparação, a música é um meio-termo entre o Megadeth de “Killing Is My Business... and Business Is Good!” (1985) e o Annihilator de “Alice in Hell” (1989). 


Nas letras, impera o que se pode chamar de malvadeza de butique, típica de bandas de metal iniciantes cuja gana em ser levada a sério acaba se traduzindo em motes de ódio gratuito e, de tão exagerado, fajuto. Em “The Almighty”, por exemplo, os caras encarnam o Lúcifer e desafiam aquele que criou o homem, mas se esqueceu de lhe ensinar o amor e a gentileza. Já em “Into the Universe”, imagens à la Carcass são conjuradas em versos como “Vultures are waiting to rip the flesh of my face”. Na saideira “Deeds of Darkness”, uma letra que parece roteiro de filme de horror é apresentada sob um véu musical que remete a Black Sabbath. “Dead bodies give me life [...] The flesh is dead but it’s full of life”, canta Flemming, todo necromante de si mesmo. 


Bonito por fora, interessante por dentro, histórico por excelência e de sonoridade cristalina graças à masterização adicional realizada por Fabio Golfetti (Violeta de Outono, Gong): tornando minhas as palavras de Dias Lúcio: “10 é pouco!!”


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