Confira os lançamentos de fevereiro de 2021 que mais curti:
Um regresso ao lar na forma de variações sobre um mesmo tema. Mal comparando, “Detroit Stories”, o vigésimo álbum de estúdio de Alice Cooper, é como se fosse “A Praça é Nossa” musical: a mesma praça, o mesmo banco, o mesmo “Cazalbé”, só que com quadros diferentes, cada qual com seu protagonista e sua abordagem, mas todos igualmente engraçados ou sem graça, dependendo do ouvinte/telespectador. E se liga nos “humoristas” que dão as caras por aqui: para começar, quem assina a produção é o sinistro Bob Ezrin, que 50 anos atrás livrou Alice de se tornar um Frank Zappa de quinta transformando-o no pai do shock rock. Temos também Mark Farner (Grand Funk Railroad), Larry Mullen Jr (U2), Joe Bonamassa, a lenda viva da disco music Sister Sledge (“We are family...”) dando aula de backing vocals em “$1000 High Heel Shoes” e os remanescentes do Alice Cooper Group original Michael Bruce, Dennis Dunaway e Neal Smith. Alguns covers – algo incomum, ao menos na carreira recente de Cooper – se infiltram no repertório dada sua importância histórica – “Rock and Roll” do Velvet Underground e “Sister Anne” do MC5 –, mas os destaques vão para duas autorais: o hino ao legado musical da Motor City “Detroit City 2001” e o bluesão cafajeste de “Drunk and in Love”. Diversificado como poucos álbuns de Alice, “Detroit Stories” pode não cativar de primeira, mas como diz a letra de “Our Love Will Change the World” – a maior tirada de sarro da vigente cultura do cancelamento já feita por um astro do rock –, “you may not like it now, but you’ll get used to it”.
Joel Hoekstra’s 13 – “Running Games”
Passados cinco anos do primeiro e a princípio único disco de seu projeto 13, Joel Hoekstra reúne a mesma formação do excelente “Dying to Live” (2015) para gravar um álbum ainda melhor. Em “Running Games” temos novamente o guitarrista, desde 2014 também integrante do Whitesnake, lado a lado com o vocalista Russell Allen (Symphony X, Adrenaline Mob), o baixista Tony Franklin, o baterista Vinny Appice (Last in Line) e o tecladista Derek Sherinian (Sons of Apollo) tocando aquele hard rock com um pezinho no heavy metal e dotado de um virtuosismo que não deixa dúvidas sobre quem é o capitão do navio. Na primeira metade do repertório, o mana é muitíssimo bem distribuído: qualquer uma das faixas de 1 a 6 – sobretudo “Hard to Say Goodbye”, que conta com um backing vocal campeão de Jeff Scott Soto, e a baladaça “How Do You” e seu belíssimo arranjo de cordas – poderia ser single e videoclipe. “Lonely Days” abre a segunda metade com um tema em slide guitar que gruda, e após alguns números que empalidecem na comparação com os anteriores, a faixa título coloca um ponto final na audição em clima intimista, reflexivo e necessário após quase uma hora de pau torando.
Ricky Warwick – “When Life Was Hard and Fast”
O quinto álbum solo de Ricky Warwick (ex-The Almighty, Thin Lizzy, Black Star Riders) é o primeiro fruto de uma recente união de forças com o guitarrista Keith Nelson (ex-Buckcherry), que coassina praticamente tudo que se ouve em “When Life Was Hard and Fast”. Completam a formação o baixista Robbie Crane, colega de Ricky no BSR, e o baterista Xavier Muriel, ex-colega de Keith no Buckcherry. O elenco de apoio é de primeira também: Joe Elliott (Def Leppard), Dizzy Reed (Guns N’ Roses) e Andy Taylor (Duran Duran) são apenas alguns dos que contribuem para a empreitada. A nostalgia da capa, que traz uma fotografia dos anos 1930, ecoa no repertório, calcado no classic rock do tipo que encontra espaço nas rádios especializadas sem abrir mão de um contorno punk, acentuado pelo despojamento de Nelson e pela ausência do fraseado elegante de Scott Gorham, marca registrada do som do Lizzy e do BSR. Embora cada música traga uma mensagem diferente que bate e fica, as mais contundentes são “I Don’t Feel at Home” (um alerta sobre o perigo do vício em drogas), “Clown of Misery” (retrato de um depressivo cujas aparências enganam) e a stoniana “Time Don’t Seem to Matter”, declaração de amor de pai para filho legitimada pela participação da caçula de Ricky, Pepper, nos vocais.
Fevereiro foi mesmo o mês das empreitadas solo. Vocalista do Crimson Glory de 2010 a 2013 e do Queensrÿche desde 2012 – e muito provavelmente o grande responsável pela revitalização do grupo –, Todd La Torre se aproveitou da impossibilidade de cair na estrada para dar os últimos retoques em seu primeiro voo solitário. Se bem que em “Rejoice in the Suffering”, lançado no último dia 5, o cara não está lá tão sozinho: seu braço direito é ninguém menos que o faz-tudo Craig Blackwell. O resultado dessa parceria é um disco de sonoridade comparativamente mais pesada e versátil que tudo que já ouvimos com a voz de Todd. Às guitarras de afinação baixa somam-se registros estratosféricos na escola de Rob Halford (Judas Priest) e os lamentos carregados de vibratos que fazem dele o substituto ideal para Geoff Tate; “Crossroads to Insanity” e “Apology” estão aí para não me deixar mentir. Membro da atual formação do Ratt, o guitarrista Jordan Ziff participa tocando o solo da faixa-título. Disponível em diversos formatos físicos – incluindo uma edição deluxe com três músicas a mais –, “Rejoice” foi mixado e masterizado por Zeuss, o mesmo de “Condition Hüman” (2015) e “The Verdict” (2019), do Queensrÿche, dobradinha capaz de fazer qualquer viúva da era Tate largar o véu preto para lá.
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