RESENHA: Wildfire – “Brute Force & Ignorance” (Relançamento 2021)


Wildfire – “Brute Force & Ignorance”

Lançado originalmente em 1983

Hellion Records Brazil – NAC. – 41min


O sonoro nome é o mesmo do vírus alienígena que dizima a população de uma cidadezinha no Novo México no filme “O Enigma de Andrômeda” (1971). Já a logo é inspirada nas das tradicionais marcas de motocicletas Norton e BSA. No line-up, dois sujeitos que podem contar para os netos que, embora não tenham gravado um compasso sequer, fizeram parte do Iron Maiden: o vocalista Paul Mario Day e o guitarrista Martin Bushell. 


No país que mais ouve Iron no mundo, esse vínculo é um argumento de venda e tanto. Só que ao lançar a obra completa do Wildfire no Brasil a Hellion Records não está apenas oferecendo mais duas peças para consumo dos fãs do tipo completista; ela está, sim, fazendo justiça tardia a um grupo de notável talento que passou despercebido durante seu curto período de atividade. 



Passado um tempo de sua saída do Maiden, Day formou o More e passou a tirar um extra como motorista de van. Gravou um único LP, “Warhead” (1981), antes de, com o perdão do trocadilho, se dar conta de que queria mais. Com Bushell estabeleceu o núcleo criativo que ao lado do guitarrista Jeff Summers (ex-Weapon), do baixista Jeff Brown e do baterista Bruce Bisland (futuro Praying Mantis) deu origem ao Wildfire em 1982. 


Entre uma entrega e outra, Day e Bushell escreveram o grosso do material que a banda levou para a Bélgica, país sede da Mausoleum Records, gravadora que a contratou, e onde gravou seu disco de estreia em duas semanas movidos a muita Delirium, Chimay e Duvel, entre outras cervejas famosas. No caldeirão de influências, Deep Purple, Judas Priest, UFO, Queen, Thin Lizzy e Rush; ou seja, as bandas de cabeceira de qualquer jovem roqueiro na Inglaterra dos anos 70. 


Sendo assim, o que se ouve em “Brute Force & Ignorance” — só Deus sabe se o título foi inspirado em Rory Gallagher —, desde a abertura com “Violator”, é um som, sem dúvidas, pesado, mas com um diferencial melódico que dificulta seu encaixe na estética da New Wave Of British Heavy Metal que a essa altura, em 1983, já não era tão “New” assim. Outro exemplo disso é “Victim of Love”, a segunda da tracklist, soar como uma derivação metálica de “You Can do Magic”, do America, que o Dokken chuparia dois anos mais tarde em “Don’t Lie to Me” do clássico “Under Lock and Key”. 



Na sequência tem-se “Another Daymare”, cujo terror palatável da letra só não chama mais atenção do que a qualidade vocal de Day; a levemente dançante “Lovelight”, com direito a um timbre de guitarra totalmente new wave; e “Search and Destroy”, prima distante de “Eye of the Tiger” (Survivor) com um solo que é uma nítida tentativa de soar Randy Rhoads.


Mais adiante destacam-se o groove de “Wildfire” erguido sobre um fraseado de baixo muito do bem tocado; “If I Tried” e seu aceno acapella a “Scarborough Fair”, pérola de autoria desconhecida do cancioneiro popular britânico imortalizada pela dupla Simon & Garfunkel; e a marcha “Eyes of the Future”, com teclado exercendo mais do que mera ambiência e dando um spoiler do direcionamento que seria tomado no ano seguinte com o também muito bom “Summer Lightning”, que em breve será resenhado por este que vos fala.


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