Transcrição: Leonardo Bondioli
Fotos: Algoby Graf e Max Thunder Steel (Retiradas de Facebook.com/OmenOfficial)
Marcelo Vieira: E o portão foi reaberto em 1997 com o álbum chamado “Reopening the Gates”. Em 2016 você disse que não sabia se esse álbum era digno de ser vinculado ao Omen e que se lembra dele como sendo um erro. Como assim?
Kenny Powell: Trouxe Greg, meu filho, para cantar e tocar guitarra. Ele era muito fã do Pantera, e embora eu fosse amigo de alguns dos caras do Pantera não ouvia muito a banda. Então acabei não percebendo como meu filho era influenciado por esse som! [Risos]
Não tivemos verba; gravamos tudo por conta própria. Os preparativos deram muito trabalho. Meu filho tinha sua própria banda na época e foi muito difícil mantê-lo focado no processo. Não odeio o disco; gosto de várias de suas músicas. A produção não foi das melhores; pudera, usamos gravadores portáteis em vez de um estúdio profissional. Se tivesse sido mais bem gravado, seria um ótimo projeto paralelo entre meu filho e eu, mas como um álbum do Omen fica devendo e muito.
MV: Avancemos doze anos no tempo até o Omen finalmente desembarcar em terras tupiniquins para seus primeiros shows no Brasil.
KP: Nunca sequer cogitamos de ir à América do Sul; afinal, viviam nos dizendo que nossos discos não eram comercializados aí. Então não havia o que divulgar. Até que um dia, tocando no México, algumas bandas nos disseram que o Omen era grande aí. Eu não fazia ideia de que tínhamos fãs por aí! Adorei conhecer São Paulo. Adorei e adoro tocar no Brasil.
MV: O “Warning of Danger” foi lançado no Brasil em 1986, e muitas pessoas conheceram o Omen por esse disco. É engraçado porque muitas outras bandas de metal ficaram conhecidas aqui no Brasil por causa de um disco em particular que não necessariamente é o seu trabalho mais famoso.
KP: Pode crer! Na Europa, por exemplo, “Battle Cry” era o disco que todo mundo conhecia cada palavra, e o “Warning of Danger” não. Mas quando fomos ao Brasil e tocamos as músicas do “Warning of Danger” foi uma loucura! Descobri que o álbum era muito conhecido e que nunca havíamos sido informados sobre isso! Amo esse álbum. Talvez não tenha a energia do “Battle Cry”, mas a banda soa muito mais polida e coesa nele.
MV: Deu tempo de passear um pouco pelo Brasil, conhecer algumas pessoas ou ir a alguns lugares?
KP: Sou um andarilho, né? Além do mais, sou um cara da noite! Posso andar de 15 a 20 quilômetros depois de um show. Então, sim, deu para passear bastante! Sempre gosto de sair do show e caminhar e conhecer a verdadeira cultura do país. Amei o Brasil. No final da primeira turnê eu estava exausto porque fizemos uma caralhada de shows. Amei o povo e a cultura, mas tive muita dor de cabeça com a polícia...
Falo um pouco de espanhol. Então passei uma semana tentando comprar uma cerveja em uma loja de conveniência falando “cerveza”, e os atendentes só ficavam olhando pra mim. Agora sei que é “cerveja” que se fala, mas custei a aprender! Na outra vez [em 2014], o promoter local achou que eu estava falando algo negativo, porque eu queria ir à floresta e ver os bichos, os macacos e tal. O inglês dele era muito ruim e o meu português não era lá grande coisa, aí ele achou que eu estava dizendo algo negativo sobre o povo brasileiro porque falei a respeito de ver os macacos e ele achou que eu estava sendo racista. Acabamos nos tornando bons amigos. O inglês dele melhorou e assim como o meu português... Bem, já sei falar “frango” e “cerveja”! [Risos]
MV: Já dá para pedir uma refeição! [Risos]
KP: Pois é! Amo o Brasil e amo São Paulo; amo essas grandes metrópoles onde tem muita gente e você pode andar por horas e horas.
Realmente sinto falta de tocar... Fizemos uma longa turnê pela Europa no ano passado; foi o máximo de dinheiro que já ganhei [na estrada] e foram os melhores shows, mas a Covid-19 acabou com tudo isso. Têm sido tempos difíceis e nesse ínterim meu pai faleceu. Eu estava compondo músicas para um novo álbum; a maioria delas já está pronta. Nikos [Migus A.] gravou alguns dos vocais, mas fiquei deprimido e simplesmente não consegui continuar. Espero que possamos retomar as gravações em breve. Já voltei a trabalhar nas músicas, mas têm sido tempos nada agradáveis. Inclusive estou me recuperando da Covid-19.
MV: Lamento muito pela sua perda, cara... Quanto à Covid-19, alguns amigos tiveram a doença e sei o quanto é ruim.
KP: É uma merda. E olha que eu vinha me cuidando bem. Comecei a usar máscara antes de qualquer outra pessoa na cidade. As pessoas me viam de máscara e falavam: “Ah, é só uma gripezinha”, ao que eu respondia: “Vai nessa...”.
MV: Você já tomou a vacina?
KP: Tomei, mas infelizmente alguns parentes da minha esposa vieram nos visitar e eu acabei ficando muito doente. Eu estava tão doente que não aguentava nem ficar sentado no sofá; queria deitar, mas não tinha energia nem para deitar e ainda fiquei com sequelas no paladar e no olfato. Mas eu sabia desde o começo que não era só uma gripezinha e que o governo daqui estava ignorando a gravidade da situação. Eu estava com muita raiva porque vi o que estava por acontecer e comecei a pregar “Levem isso a sério, se cuidem”, e as pessoas insistiam comigo que era besteira. Mas não era besteira. Veja só a taxa de mortalidade...
MV: No Brasil temos pouco mais de 10% da população vacinada.
KP: No segundo em que pude ser vacinado, eu estava lá. É claro que fiquei na merda depois de ambas as doses, mas o preço a pagar é muito pequeno em comparação com o quão pior eu teria ficado se não tivesse me vacinado. O que não dá para entender são esses antivacina. Metade das pessoas não está nem aí, é uma loucura! Por que não se vacinar? Insanidade!
MV: Pode falar um pouquinho sobre o novo álbum?
KP: Está em andamento. A maior parte das músicas está pronta, alguns dos arranjos estão concluídos. Nikos e eu não conseguimos nos reunir há tempos. O plano era, com a maior parte das músicas prontas, eu iria passar um mês na Grécia e depois entraríamos em estúdio para gravar, mas não conseguimos. Não sou o cara que vai fazer vinte músicas das quais apenas duas são boas. Procuro colocar meu esforço para que cada música seja boa. Agora é uma questão de conseguir ensaiar também. Meu baixista teve Covid e ficou mal a ponto de eu não ter certeza se ele conseguirá tocar novamente, e eu ainda não encontrei um substituto. Quando as coisas começarem a andar de novo, talvez tentemos agendar alguns shows nos EUA para que eu possa trazer o Nikos para cá e terminar o álbum. Eu gostaria de conseguir fazer isso antes do fim do ano.
MV: O álbum mais recente do Omen, “Hammer Damage”, levou treze anos para ficar pronto. O que aconteceu durante as gravações para que o processo demorasse mais do que o esperado?
KP: Ai, meu Deus. Mais fácil falar o que não aconteceu, basicamente! [Risos] Teve uma tempestade e o teto do estúdio desabou. Minha mesa de som foi destruída. As coisas simplesmente estagnaram após isso, mas a maré de azar começou quando Kevin [Goocher] se mudou para a Califórnia. Foram dois anos sem nada escrever. Ele se tornou uma pessoa impossível de se conviver. Então cortei os laços para começar de novo.
Chamei o Matt [Story], que tem uma voz fantástica, e nós dois trabalhamos pra valer por cerca de três anos nisso; ele já estava acostumado com processos de gravação mais demorados e os vocais eram muito, muito bons. Só que lá pelas tantas eu trouxe o Kevin de volta. Meu baixista naquela época não era suficientemente bom para lidar com toda essa merda de gravação. Então gravei o baixo e programei a bateria, depois mixei e trabalhei até o ponto em que caí duro no chão.
Poderia ter sido um álbum muito melhor, mas eu estava decidido a terminá-lo naquela época, pois já havia perdido tempo demais. Já estávamos trabalhando com o Steve [Wittig], mas ele levou cerca de três meses para gravar a bateria de uma música. Então resolvi usar bateria programada, que é muito mais simples. Muita gente não sabe, mas a maioria das bandas faz isso hoje em dia.
MV: Mas o Steve segue na banda?
KP: Não! Cansado das turnês, decidiu se aposentar. É muito estranho [não o ter na banda] porque tocamos juntos desde o final dos anos 70. Mas ele estava exausto.
MV: Antes de encerrarmos, conta para mim o que significa “V.B.P.” [nome de uma faixa de “Hammer Damage”]?
KP: [Risos] Significa “Vibrating Butt Plug” [“Plugue Anal Vibratório”]!
MV: O quê???!
KP: É sério! [Risos] Nessa época, estávamos em Los Angeles e lançamos um concurso: “Adivinhe o que significa ‘V.B.P.’ e ganhe um prêmio!” Muita gente deu seus palpites, “é isso”, “é aquilo”, e isso se estendeu por meses. Finalmente, uma fã veio e disse: “Vibrating Butt Plug!” Fiquei incrédulo: “Como você descobriu?” Ela disse: “Vi a sigla num sex shop. Pervertidos vocês, hein?!” [Risos] Ela ganhou o prêmio!
MV: [Risos] Bem, agora só me resta pedir a você que mande um recado para os fãs do Omen no Brasil; tanto os antigos quanto os novos que estão descobrindo a banda graças aos recentes relançamentos em CD no país.
KP: Fiz bons amigos no Brasil. Adorei minhas idas até aí; estaria aí amanhã se pudesse! Sinto falta de todos. Me diverti muito e não tive problemas com ninguém. Os últimos shows que fizemos no Brasil exerceram uma grande influência na minha vida. Amo as pessoas, a cultura diferente e todo o resto! Foi uma das melhores experiências da minha vida! George Call deveria ter sido o vocalista naquela primeira turnê [em 2009], mas uma semana antes de irmos ele disse: “No cu que eu vou me apresentar nesse paisinho de terceiro mundo!” Então Eric “La Bestia” Morales veio para nos salvar, mas como não tínhamos ensaiado para os shows, ele esquecia as letras e começava a embromar em espanhol. Uma confusão só. Foi melhorando a cada show. Fiquei arrasado quando ele faleceu [em março], porque ele era um irmão para todas as horas. Haverá uma música em homenagem a ele no próximo disco do Omen. Enfim, minhas duas idas ao Brasil foram experiências maravilhosas. Agradeço demais e até a próxima!
Perdeu a parte um? Leia aqui!
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