ENTREVISTA: Henrik Rasmussen fala sobre a volta do Alien Force e relembra clássicos cult dos anos 80


Nem era nascido quando o Alien Force lançou “Pain and Pleasure” (1986), seu segundo e, até novembro de 2021, mais recente álbum. Com o apropriado título “We Meet Again”, o vindouro lançamento do selo Mighty Music assinala a retomada das atividades em caráter definitivo dos dinamarqueses após anos ensaiando e driblando os infortúnios com os quais a vida insistiu em presenteá-los; incluindo a morte de um de seus integrantes. O papo com o guitarrista Henrik Rasmussen teve destaque, obviamente, no atual momento da banda, mas não pudemos deixar de falar do histórico “Hell and High Water” (1984), que acaba de ganhar caprichada edição nacional em CD pela Evil Invaders Records. Boa leitura!



Transcrição: João Marcello Calil
Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: O Alien Force vem ensaiando uma retomada das atividades há um bom tempo, mas em que ponto nos últimos anos as coisas ficaram mais sérias para que vocês finalmente decidissem gravar um novo álbum?

Henrik Rasmussen: É uma longa história. Em um ponto perdemos nosso guitarrista [Michael Wenzel, vítima de câncer] e não sabíamos o que fazer. Então fomos convidados para tocar no festival Keep It True, na Alemanha, em 2018. Já não nos víamos há alguns anos, e pensamos: “Que se dane, vamos nessa.” Ensaiamos um pouco e fomos para a Alemanha. Vimos toda aquela gente de diversos países, de toda a Europa e além, e ficamos muito, muito contentes. Para nós foi realmente bem inspirador. 

Quando voltamos para casa, estávamos cheios de ideias para músicas novas. Eu tinha um monte de rascunhos salvos no meu computador e começamos a trabalhar em cima deles. De repente, tínhamos dez músicas novas prontas. Pensamos: “Podemos tentar mais uma vez e ver o que nossos fãs vão dizer.” Aqui estamos agora, felizes da vida por ver tanta gente ao redor do mundo animadas em voltar a ouvir o Alien Force, o que nos deu um gás totalmente novo.


MV: Como está a expectativa para o lançamento do álbum?

HR: Claro que muito alta! [Risos]. Descobrimos que temos muitos fãs por causa dos dois álbuns lançados nos anos 1980, e entendo que a expectativa deles também é por demais alta. Estamos muito ansiosos para ouvir o que vão dizer porque já passou muito tempo que lançamos nosso último álbum. Esperamos que [o sucesso do novo] nos leve a uma turnê pela Europa e que toquemos em alguns festivais...



MV: Heavy metal tradicional até o osso, “We Meet Again” soa como um álbum gravado nos anos 1980. Era essa exatamente a intenção, de vocês atestarem que passaram ilesos por mais de três décadas de revoluções musicais e modas passageiras?

HR: Exatamente. Para nós, era muito importante mantermos aquele bom e velho vigor do heavy metal oitentista. Esse é o DNA do Alien Force, e ele nunca vai mudar. Tomamos cuidado de tentar manter muito o som dos anos 1980 [no novo álbum], porque nossa proposta, sim, é a de pensarmos também nos nossos fãs.


MV: Se você pudesse resumir em uma frase, qual a mensagem que vocês estariam tentando transmitir com esse novo álbum?

HR: O título do álbum é “We Meet Again” (“Nos encontramos novamente”). Essa é a nossa reivindicação: queremos reencontrar nossos amigos, nossas famílias, nossos fãs... queremos encontrá-los novamente e, com sorte, tocar o mesmo heavy metal que gostamos e que nossos fãs também gostam. Acho que a frase poderia ser: “Que nos encontremos novamente, e vejamos o que sai”. 


MV: Gostaria que você falasse sobre algumas músicas do álbum, começando por “Killing Time”, que apresenta aquela atmosfera um tanto assustadora. O que impulsionou a composição dessa música?

HR: Não sei se sou o cara certo para responder, porque é a única música que não compus e também não escrevi [no álbum]. Nosso baixista Michael [Osterfeld] a escreveu. Lógico que sei [a letra] de cor, e é até um pouco sombria, sim. Para mim, é sobre estar sozinho vendo o tempo passar, talvez lidando com alguma depressão sem conseguir sair dela; “matando tempo”, nada para fazer, nada de positivo na vida.

Na verdade, é uma música um pouco mais antiga que decidimos colocar no álbum. Nosso guitarrista que não está mais conosco chegou a dar uns pitacos nessa música antes de morrer. Foi uma emoção e tanto gravá-la. É lógico que ele não toca nela porque é uma gravação nova, mas fizemos uma demo com ele quando estava por aqui. Depois que se foi, pensamos: “Precisamos gravar essa música.”


MV: Além de “Killing Time”, há também a música “Precious Time”. A passagem do tempo é assunto recorrente nas letras, e o conteúdo é mais profundo do que costumava ser lá pelos anos 1980. Podemos presumir que vocês, fazendo jus ao que cantou o Judas Priest, ficaram mais sábios depois que envelheceram?

HR: [Risos] Essa foi boa! Quando Michael nos deixou, estive com sua viúva e perguntei se podia dar uma olhada nas letras que havia deixado, uma vez que eu queria escrever uma música com alguma letra dele. Só que não havia letras com as quais eu pudesse me identificar; eram todas muito pessoais. Então me sentei e pensei: “O que posso dizer sobre ele ou sobre a sensação de perder alguém?” Daí escrevi “Precious Time”, que fala a respeito disso; sobre pessoas que amamos e perdemos, nossos parentes e amigos, aqueles que sempre iremos guardar em nossos corações.


MV: Ainda na veia autobiográfica, “We Meet Again” termina com um número acústico, a canção de amor “Song for You”. Quem é, neste caso, “You”?

HR: Peter [Svale Andersen, vocalista] tem um filho que sofre de uma doença há alguns anos e queria escrever algo sobre o que sente por ele. [“Song for You”] é outra música que estava nos planos há tempos e só precisava ser finalizada. Pensamos: “a hora é essa.”



MV: Embora vocês tenham dois álbuns na discografia, o Alien Force é conhecido principalmente pelo primeiro, “Hell and High Water”. Certa vez, você o descreveu como “o som de quatro caras que podiam não ser supermúsicos, mas fizeram o seu melhor apesar das condições adversas”. Você poderia falar mais sobre isso?

HR: Sim, mas essa é a verdade nua e crua! [Risos] É exatamente isso: não éramos lá muito bons, mas tínhamos boas intenções, éramos jovens e obstinados, e pensávamos: “Que se dane, vamos fazer o melhor disco que pudermos.” Fizemos [o “Hell and High Water”] numa garagem em Copenhagen em poucos dias; nada muito elaborado, pois não havia tempo nem grana, mas é um álbum honesto, porque não há mimimi, não há superprodução, mas tem muito balanço. Acho que muito do status que atingiu deve-se a essas circunstâncias.


MV: Apesar de ter sido gravado em apenas oito canais, o som do “Hell and High Water” é fantástico na minha opinião. A quem ou a que você atribui isso?

HR: Vejo que a razão pela qual o som foi assim apresentado é porque não tínhamos tempo nem dinheiro. A gravação tinha que ser rápida e barata. É lógico que tínhamos uma referência de como queríamos soar; algo na linha de Judas Priest, Saxon, Accept e outras bandas importantes para nós na época. O objetivo era soar como elas com os parcos recursos de que dispomos.


MV: A capa do “Hell and High Water” se tornou meio icônica. Foi a ideia desde o início estabelecer aquela alma penada como espécie de mascote da banda ou isso simplesmente aconteceu?

HR: Aconteceu por acaso. Meu irmão, Michael [Rasmussen], nosso baterista, foi o responsável por esse logo que saiu do nada.




MV: Agora você poderia falar um pouco sobre a capa do “Pain and Pleasure”?

HR: Montamos a Alien Records, nossa própria gravadora. Quando entramos no estúdio [para gravar “Pain and Pleasure”], pensamos: “Vamos ousar um pouco aqui, vamos conseguir um tatuador para tatuar nossos rostos nos braços das nossas esposas.” Enlouquecemos porque achávamos que tínhamos muita grana [Risos]. Mas tudo não passou de uma ideia maluca, e nada mais. Se você reparar bem na capa, verá a alma penada do “Hell and High Water” pendurada em um brinco. [Risos]


MV: Uma vez você disse que o “Pain and Pleasure” tem músicas melhores do que o “Hell and High Water”, mas infelizmente o som do álbum faz você não gostar tanto assim. O que há de errado com esse som?

HR: É tudo uma questão de dinheiro. Quando você entra no estúdio, quer fazer tudo o mais perfeito, mas, a certa altura, vimos nosso orçamento se esgotando e não podíamos continuar. Em algum momento simplesmente não tínhamos mais dinheiro; então decidimos: “Vamos fazer o que dá.” Só que havia muita coisa a ser feita, mas não podíamos, e, além disso, não tínhamos mais tempo [no estúdio]. Realmente acho que há músicas ótimas nesse álbum, mas, se você o comparar com o “Hell and High Water”, foi mais divertido gravar o “Hell and High Water”, também pelo fato de ter sido mais simples. Éramos dois guitarristas no “Pain and Pleasure”. Pensamos que talvez estivéssemos na curva ascendente, e em vez de segurarmos a onda, metemos os pés pelas mãos. É a minha opinião.


MV: De todas as músicas gravadas pelo Alien Force nos anos 80, qual você diria que é o hino da banda?

HR: Acho a “Hell and High Water”, dotada de um refrão marcante tipicamente oitentista, é a música que todo mundo conhece e sabe cantar. Outra muito boa é a “Get it Out”, que tem um riff clássico pesadão. “Through the Gates of Hell”, do “Pain and Pleasure”, completa a trinca. [Risos]


MV: E das novas qual você acha justo se tornar o mote dessa retomada?

HR: É difícil dizer, mas há, digamos, duas músicas neste álbum que realmente espero que se tornem o mote. Entendo que “Rebellions” é uma música fantástica, porque tem esse riff clássico de metal, e “Set Me Free”, que representa bem o heavy metal old school. Embora essas sejam as minhas favoritas, friso que ainda temos dez ótimas músicas. Então é difícil você só poder escolher uma.



MV: A minha favorita é “We Meet Again”!

HR: Essa música é para os fãs. A letra é sobre os fãs, quando estamos juntos, nossos amigos... eles nos fizeram gravar esse álbum; então foi talhada para manifestarmos nosso agradecimento a eles.


MV: É muito louco saber que vocês têm fãs no Brasil a tal ponto que, em tempos de plataformas digitais, “Hell and High Water” acaba de ser relançado em CD por aqui?

HR: É louco pra caramba! Nos sentimos muito, muito honrados. Sempre que recebo um e-mail ou uma mensagem no Instagram ou no Facebook do Brasil fico pensando... cara, isso sim é bem louco!


MV: Então vamos encerrar com uma mensagem para seus fãs no Brasil!

HR: Se vocês gostam de heavy metal old school, da simplicidade, das coisas simples, você tem que ouvir, vocês têm que comprar o “Hell and High Water”! [Risos]. Depois, precisam ouvir o novo quando for lançado, porque ambos se completam. “We Meet Again” é o Alien Force no novo milênio, mas soando como antigamente. Então, vá fundo que não se desapontará, prometo! [Risos]


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