Nos últimos anos, paralelo ao crescente consumo de mídias físicas no Brasil — em especial os CDs —, tem havido, por parte de ouvintes e colecionadores, amplo interesse na chamada New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM), movimento musical inglês do final dos anos 1970/início dos anos 1980 responsável pela projeção de bandas como Iron Maiden, Saxon, Def Leppard e centenas de outras que depois de um ou alguns discos de baixa expressão em vendas, despontaram para o anonimato no qual permaneceram até que o fator cult as trouxesse de volta às rodas de conversa.
Sacando que havia demanda por títulos dessas bandas, selos brasileiros vêm apostando firme em materiais há muito ou fora de catálogo ou disponível apenas em inacessíveis edições importadas. Eis aqui cinco clássicos da NWOBHM que ganharam edição nacional recentemente e podem, finalmente, ser encontrados a preços convidativos:
Formado em 1976/1977 com o nome Lucifer, o Angel Witch começou sua trajetória tocando covers. Após um vai e vem de músicos, o vocalista e guitarrista Kevin Heybourne conseguiu firmar Kevin “Skids” Riddles e Dave Hogg – futuros integrantes do Tytan – no baixo e na bateria. Em 1980, os três foram contratados pela Bronze Records – lar de Motörhead e Girlschool – e gravaram seu disco de estreia. Considerado um dos maiores clássicos da NWOBHM, “Angel Witch” possui uma das mais icônicas capas do movimento – uma reprodução da obra “Anjos Caídos no Inferno”, do inglês John Martin – e serviu de inspiração para muitas bandas que vão de Megadeth a Celtic Frost. Outras, como Trouble, Six Feet Under, Onslaught e Exodus, levaram a influência um passo adiante e fizeram versões de algumas das músicas do álbum, que sofre com uma produção precária inversamente proporcional à qualidade de seu repertório. “Confused”, “Angel of Death” e a faixa-título são alguns dos destaques.
Quando surgiu em 1979 sob o nome de Split Image, o Blitzkrieg era uma banda totalmente diferente daquela que se tornou conhecida após a entrada do vocalista Brian Ross. Circunstâncias diversas impediram que o núcleo permanecesse unido quando da efervescente cena metálica britânica do começo dos anos 1980, com Ross tomando parte em grupos como o Avenger UK e o Satan. Reformado tarde demais para provocar qualquer impacto, ainda assim foi capaz de se tornar banda de cabeceira de jovens do outro lado do Atlântico, como James Hetfield e Lars Ulrich, que prestariam algumas homenagens no decorrer de suas carreiras no comando do Metallica. “A Time of Changes” (1985) é seu primeiro e principal disco. Nele estão “Inferno”, “Blitzkrieg”, “Vikings” e a faixa-título; quatro hinos da NWOBHM que, passadas mais de três décadas, ainda empolgam públicos em seletos festivais pela Europa.
A aterrorizante capa engana tanto quanto o nome da banda; Satanás não opera por aqui. Embora listado entre os principais nomes do segundo escalão da NWOBHM, o Demon está mais para o hard rock dos anos 1970 do que para a sonoridade de contornos speed metal comum a seus contemporâneos. Lançado em 1981, “Night of the Demon” é seu álbum mais famoso, pois abre e fecha com as músicas que se tornaram as maiores do grupo: a faixa título e “One Helluva Night”. Correndo por fora, e exibindo uma versatilidade incomum e muito bem-vinda, temos o blues rock de “Big Love”; tipo de som que teria vaga no repertório do Whitesnake na fase chapéu e bigode.
“Court in the Act” talvez seja a obra mais celebrada da longeva carreira do vocalista Brian Ross. Novamente, não se deixe levar nem pelo nome da banda nem pela capa do álbum. Embora ambos indiquem que sim, basta uma lida nos títulos das músicas para que se conclua que a blasfêmia não está nos assuntos de interesse do grupo; de fato, não há uma única referência ao diabo em qualquer uma das dez faixas. Lançado no mesmo ano de clássicos do metal como “Kill ‘Em All” (Metallica) e “Show No Mercy” (Slayer), o disco de estreia do Satan mostra que o underground britânico ainda era digno de atenção e capaz de produzir peças atemporais; e que era possível soar pesado sem apelar para uma velocidade incessante e desnecessária ou abrir mão do fator acessibilidade responsável por conferir a músicas como “Into the Fire”, “Blades of Steel” e “No Turning Back” o caráter atemporal que ostentam.
Entre 1973 e 1977, o Vardis operou sob a alcunha de Quo Vardis. O nome, homenagem ao veteraníssimo Status Quo, indica o classic rock como fundamento sonoro. Com a mudança de nome, veio também a expansão dos horizontes musicais. Atento ao que estava fazendo a cabeça da molecada, o guitarrista Steve Zodiac pisou fundo no acelerador e, com isso, seu grupo tornou-se uma mistura de Jimi Hendrix Experience com Motörhead. Acompanhado por Alan Selway no baixo e Gary Pearson na bateria, Zodiac gravou “100 M.P.H.”, disco de estreia do Vardis, como garante o splash na capa, totalmente ao vivo, sem overdubs. A impressão que se tem ao longo das 12 faixas de seu repertório é que o teto está prestes a cair ou o piso está em vias de rachar; energia semelhante à de “No Sleep ‘til Hammersmith” (Motörhead) ou “Live at the Inferno” (Raven), dois lives que têm o som do mundo se acabando, só que com bem menos público.
Só "eles", hein? QUE MARAVILHA!
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