ENTREVISTA: De Joselito a Massacration, um papo com Adriano Silva (Hermes e Renato)



O Massacration está prestes a iniciar uma nova curtíssima temporada de shows. A fim de divulgá-la, Adriano Silva, que interpreta o guitarrista Headmaster, bateu um papo comigo que, obviamente, não se limitou às atividades da chamada “banda da galera”. Boa leitura!


Transcrição: Leonardo Bondioli

Fotos: Divulgação


O que dita o ritmo das reuniões esporádicas do Massacration são as agendas de vocês. Sempre que coincide de todos terem um “tempinho”, vocês se reúnem, lançam uma música nova e/ou fazem uma série de shows. A última música data de 2020. Pode-se dizer que está ficando cada vez mais difícil encaixar o Massacration nas agendas? 

Todos sabem que o Massacration é um projeto em paralelo ao Hermes e Renato, que é o nosso foco principal. Mas a gente está sempre desenvolvendo ideias, tentando produzir músicas novas e videoclipes. O processo criativo do Massacration passa muito pelo do Hermes e Renato. Apesar de ser música, a gente trata como esquetes, mas realmente é um pouco mais difícil. Dito isso, já temos uma música nova pronta e o Bruno [Sutter] e o Marco [Antônio] já têm umas bases prontas para escrevermos a letra. Terminando essa turnê, vão surgir coisas novas para o Massacration, sim.


Os shows do Massacration são shows para toda a família, por assim dizer. E são shows que lotam sempre. Para você, qual a razão tanto desse sucesso tão amplo (em termos de público) quanto dessa longevidade da banda?

Os shows do Massacration têm esse lado lúdico, esse lado da esquete, da brincadeira, que são coisas que estão no nosso DNA como criadores de conteúdo, como humoristas. Acho que isso já é um diferencial. Lógico, a parte musical do Massacration tem uma sonoridade que, a meu ver, é muito atraente tanto para o público que é fiel consumidor do heavy metal quanto para a galera que gosta da bagunça, da zoeira, da brincadeira, da esquete. Essa combinação faz o show ser muito interessante e diferente de um show normal, comum, de uma banda que sobe no palco só para tocar. E eu acho isso demais. É uma sensação maravilhosa poder subir no palco, tratar o palco como um palco de teatro e poder fazer o seu trabalho, a sua esquete, e ver a reação das pessoas.


Fala um pouco sobre os shows em si. Dá um frio na barriga ainda? Mais do que quando você sobe ao palco para a peça do Hermes e Renato?

Frio na barriga, ansiedade pré-show, isso vai acontecer sempre, eu acho que isso faz parte. É diferente do nervosismo de um iniciante, de um cara que está começando. O nosso já é uma ansiedade normal de subir no palco, aquele início ali. Mas depois que você bota a adrenalina pra fora as coisas acontecem naturalmente.



O Hermes e Renato está em nova fase, investindo em conteúdo para YouTube, redes sociais e merchandising. Vocês foram, basicamente, obrigados a se reinventar do ponto de vista de mercado. E em relação ao humor? Você acha que os novos tempos obrigaram vocês a “pegar mais leve”, evitar algumas piadas que na época da MTV eram corriqueiras? 

Sim, estamos nesse novo momento da carreira. A gente sempre foi muito provocativo entre a gente para poder se reinventar, sempre fazer coisa nova, tentar coisas diferentes. Acho que muito do sucesso das coisas que a gente faz e que as pessoas abraçam têm a ver com a forma como elas são feitas. Acho que isso é uma coisa que a gente vai viver na nossa carreira até os anos que temos pela frente. Se reinventar, fazer coisas novas e experimentar novos formatos e mídias que vão surgir. Acho que isso faz parte do processo de renovação de qualquer artista. 

Sobre os tempos de hoje, as formas de fazer piada, eu acho que o humor foi a área que mais teve que se adaptar, mas nós, do Hermes e Renato, sempre fomos muito respeitosos na forma de fazer uma crítica, de brincar e falar de qualquer assunto. Acho que ser ácido não requer ser agressivo, humilhar, para fazer o outro rir. Nas nossas rodas de criação a gente sempre ponderou quanto ao que poderia pegar mal. Na verdade, a gente segue fazendo igual. É lógico que tem assuntos que falamos lá atrás que hoje em dia não cabem mais e faz parte; isso é um processo evolutivo. Com o tempo vão surgir muitas coisas, muitos fatos que vão passar por isso, e o outro lado também; a gente tem um amadurecimento pessoal, profissional, que interfere bastante. Coisas que cada um achava engraçado hoje em dia a gente olha e não tem necessidade. Tem formas de se fazer diferente e ficar tão legal quanto ou até melhor. Portanto, acho que a gente passa por esse processo e isso faz parte para qualquer artista não só no humor.


Seu principal personagem em Hermes e Renato é o Joselito. Talvez seja um dos personagens mais queridos pelos fãs — é sem dúvida um dos meus. Primeiro eu queria saber: por que você acha que ele se tornou tão popular? O que ele tem que gera essa identificação?

O Joselito é muito louco. É um personagem que a gente já fazia muito antes da MTV, lá em Petrópolis (RJ), ainda nos anos 1990. Acho que as pessoas se identificam com o estilo do Joselito. Quem não tem um Joselito no círculo de amigos, na família, conhece alguém próximo ou já conviveu com alguém assim com aquela personalidade e jeito Joselito de ser sem noção? Acho que é esse lance, é o que faz o personagem cair nas graças da galera. Então é muito interessante, porque é uma coisa espontânea. Acho que é por isso, a espontaneidade do personagem, o jeito de ser, que as pessoas se identificam, porque é muito verdadeiro e muito próximo da realidade também que elas vivem. 


Segundo: nunca passou pela sua cabeça, de repente, projetar o Joselito para além da esfera do Hermes e Renato como fizeram o Bruno com o Detonator e o Felipinho com o Boça? Ou é algo em que você vem trabalhando já?

Acho que a gente faz isso um pouco, porque o Joselito, eu costumo dizer, é um “desenho animado”; não tem limite para fazer situações e coisas com ele. Então a gente faz coisas diferentes. A gente acabou de fazer uma série no YouTube na qual o Joselito dá dicas de como ser “parça milionário”, amigo de jogador de futebol; aquela coisa de dicas tipo um coach de como você ganhar a vida vivendo na aba dos outros. Então assim, é um universo amplo e a gente acaba explorando também um pouco fora daquela coisa da esquete. Como eu disse, não tem limite para se explorar.



Semana retrasada o Serj Tankian do System of a Down disse que volta e meia é surpreendido na rua por fãs que chegam para ele gritando “WAKE UP!” em referência à música “Chop Suey!”. Coisas assim acontecem/já aconteceram com você? Tipo, de alguém na rua te cumprimentar com algum bordão de personagem seu e tal.

Quando você cria um personagem que fica marcado na vida das pessoas e tem um reconhecimento, é natural que em algum momento da vida você passe por situações atreladas ao seu personagem. [Risos.] Vejo que artistas, atores de novela, sofrem com seus personagens. As pessoas acreditam que aquela pessoa, aquele artista, é na vida real o personagem que interpreta na TV. Já ouvi falar de atores de novela que sofreram ameaças na rua por causa de seu personagem ser um vilão. E com o Joselito não é diferente, e como tem esse lance de o personagem ser “sem noção” é engraçado. Uma vez um cara me deu um tapa nas costas e saiu correndo e tipo, “aí, Joselito!”, passou, me deu um tapa e, quando eu olhei, o cara estava correndo lá na frente tipo, “aí, te sacaneei” e tal. O cara viu o momento de descontar um pouco o que você faz na TV com o personagem e se achou no direito de poder brincar desse jeito. Mas é tranquilo. Na real, eu acho que recebo mais elogios e brincadeiras das pessoas. A maioria não sabe nem meu nome, não sabe que eu sou o Adriano. Para elas, eu sou o Joselito, então o Joselito tá ali e já era, entendeu?


Enquanto integrante do Hermes e Renato pode-se dizer que você já deixou seu nome escrito na história do humor televisivo e de internet do país. É um feito e tanto. Ainda assim, quais objetivos você ainda tem enquanto artista? O que você gostaria ainda de fazer/onde você gostaria ainda de chegar do ponto de vista profissional?

Acho que a gente já fez quase todas as mídias; desde as esquetes, rádio, revista, dublagem, música... tudo isso. Acho que falta o cinema para a gente. Acho que merecemos um filme; um filme do Hermes e Renato, porque participações em filme o Felipe faz bastante. Então acho que um filme do Hermes e Renato seria a cereja do bolo.


O que podemos esperar de você e do Hermes e Renato — e do Massacration, obviamente — para 2023? 

Foram dois anos parados por questões da pandemia. Foi uma baixa muito grande para todo mundo e para a gente do audiovisual foi mais ainda. Acho que agora a gente vai conseguir retomar coisas que iriam acontecer lá em 2020. O Massacration completou quinze anos do primeiro disco, “Gates of Metal Fried Chicken of Death”. Acho que a gente pode retomar essa história aí. E pro Hermes e Renato, a gente também está com um projeto na Amazon, com nosso podcast indo ao ar. Temos esperança desse projeto continuar no ano que vem e estamos abertos a novas ideias como sempre. A gente está muito feliz de conseguir voltar a produzir e gravar e, hoje em dia, com nosso próprio canal no YouTube batendo 600 e poucos mil inscritos, a nossa ideia é injetar mais ideias e conseguir produzir mais. Vida longa ao Hermes e Renato! Estamos com a marca viva e com possibilidades de muitos novos projetos pela frente.


Ah! Antes que eu me esqueça, manda um salve para a dona Ivone, a melhor maionese que há! [Risos.]

Opa, muito obrigado! Vou mandar, sim! Essa maionese não tem igual. Você pode ir às melhores hamburguerias de São Paulo e de todo o Brasil, mas a maionese da Dona Ivone não tem igual, e a receita é especial e segredo. Valeu!



Próximos shows do Massacration:

04/11 – Brasília

05/11 – Goiânia

06/11 – São Paulo

12/11 – Cariacica


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