Jimmy London começou a carreira musical em 1994 na banda Acabou La Tequila, mas foi o Matanza, banda pioneira do estilo Countrycore formada por ele em 1996, que lhe rendeu reconhecimento nacional e internacional, participando dos principais festivais de música brasileiros e fazendo diversas aparições nos principais programas de TV nos mais de 20 anos em que o grupo esteve em atividade.
Desde 2018, ele integra o Jimmy & Rats, que se dedica a fazer um som único de punk/pirata irlandês. Também lidera o Matanza Ritual, cujo line-up estelar é composto por Antônio Araújo (guitarra, Korzus), Felipe Andreoli (baixo, Angra) e Amílcar Christofáro (bateria, Torture Squad).
Como se suas empreitadas musicais não bastassem, Jimmy ainda é ator, apresentador e produtor de eventos. Ou seja, um artista multifacetado que em meio aos corres do dia a dia tirou um tempinho para conceder a entrevista abaixo. Boa leitura!
Fotos: Raony Corrêa / Divulgação e Carolina Maiato
O que você acredita que tornou o Matanza tão bem-sucedido e popular entre os fãs de rock no Brasil na época em que a banda estourou? Acha que teve um pouco de “ser a banda certa cantando sobre as coisas certas no lugar certo”?
Acho que a banda teve um ótimo lugar “mid stream”, ou seja, não foi um grande sucesso pop mas também conseguiu romper a barreira do underground, e isso se deve a dois fatores: um show no qual a gente deixava até a última gota de suor no palco e muito trabalho interno, do escritório. Ou seja, arrumar muitos shows [para fazer] e depois valorizar cada um deles, sempre dando o máximo possível.
Naquela época, havia MTV, rádios, mídia física. Esses eram os termômetros para determinar se uma banda era bem-sucedida ou não. Mas isso mudou. Como você avalia isso? Tipo, democratizou a coisa toda?
Na verdade, não sei se as grandes mídias são exatamente termômetros ou causadores de sucesso. Não dá pra saber o que veio antes, o jabá ou os pedidos de ouvintes numa rádio. Mas hoje em dia vejo nichos que passam despercebidos e que, na verdade, são gigantescos. Inúmeras bandas fazendo carreiras de sucesso sem necessariamente estarem aparentes a grande mídia, e isso antes era meio impossível.
Com essa democratização, houve, também, uma diluição ou “se a maré sobe pra um, sobe pra todos”? Como a realidade do YouTube/streaming impactou diretamente na sua carreira e no seu alcance?
Os streamings trouxeram dificuldades, assim como soluções, mas a verdade — pelo menos a minha verdade — é que deixamos de ter um trabalho pra ter outro. Ou seja, nunca dá pra relaxar; a gente tem que estar correndo atrás o tempo todo.
Quais foram as principais influências musicais que moldaram o seu som e estilo como artista no comecinho? Algo que os seus fãs ficariam surpresos ao saber que você ouve/curte?
[Johnny] Cash, Willie Nelson, Slayer e Motörhead a gente sempre cultuou, isso não é mistério pra ninguém. Mas talvez as pessoas não se liguem em quanto bebemos de bandas como The Exploited e The Dreadnoughts. Na real, toda banda é meio que uma imagem das cinco coisas que mais ouve no momento, né? Tipo formação de personalidade...
Qual é a sua música favorita que você já gravou e por quê? Aquela que você poderia colocar numa cápsula do tempo como uma fiel representação de quem é o Jimmy London enquanto letrista e intérprete.
Acho que “Tempo Ruim”. Ela tem a parte boa e a parte ruim, fala de vida e morte e deixa tudo em aberto pro que cada um quiser escolher pra própria vida.
Como você se prepara para um show ao vivo? Nada de “vinte caixas de cerveja, um barril de puro uísque, quilos de carne vermelha” mais, né?
Já tem uns 15 anos que não bebo. Hoje em dia, tenho o privilégio de trabalhar com uma p#ta equipe que me acompanha há anos, então só me preocupo mesmo em estar bem fisicamente. Nem sempre dá pra dormir o necessário quando estamos em tour, então eu gosto de um camarim bem calminho, sem distrações e de beber um cafezinho no capricho antes de aquecer o corpo pra entrar no palco. E me desculpem aqueles que esperavam altas loucuras, mas depois de um tempo, o que mais importa não é a loucura que se faz antes ou depois do show, e sim aquela que se faz em cima do palco.
E o que os fãs podem esperar de você em cima do palco?
Acredito que temos a obrigação de dar tudo que temos pro público. Músico que sai do show e ainda consegue fazer festinha é musico que não entregou tudo que poderia pro seu público, como já diria Dee Snider [vocalista do Twisted Sister].
Como certas mudanças de hábito mudaram a sua vida para melhor?
Chegou uma hora em que pensei o que realmente era importante pra mim e concluí que queria entregar o máximo possível em cima do palco e viver um pouco mais, porque minha condição física não estava muito boa. Depois que comecei a malhar e correr, isso me trouxe uma onda mental tão boa que agora sou completamente viciado. Uma semana sem malhar me deixar deprimido e irritado, e acredito ter criado um vício bom pra minha vida. A vida passa muito rápido, então fico feliz em fazer algo que possa aumentar, mesmo que só um pouquinho, minha existência na Terra.
Quais os três momentos mais marcantes de sua carreira até agora?
O [show no] Rock in Rio de 2011, no palco Sunset, acompanhado pelo BNegão foi lindo. Realmente marcante. Os Matanza Fest também foram uma coisa que deixou uma boa impressão nas pessoas e me fez muito feliz, porque pude explicar com um evento como eu entendo que os shows devem ser. E começar a atuar também foi f#da. Acho que “Cidade Invisível” me trouxe mais um prazer que faz com que eu fiquei muito satisfeito com meu trabalho.
Como você se mantém criativo e inspirado ao longo de sua carreira? A longevidade nessa indústria tem algum “segredo”?
É importante sempre aprender algo novo. Tipo começar a atuar ou tocar violão em shows com outras bandas, por exemplo. Mas é fundamental entender que todo dia tem que querer ser músico; tem que acordar e ir pro seu espaço trabalhar, ver show, ver divulgação, compor e criar seu universo. Não se pode acreditar na falácia de que músico só trabalha no palco ou que pode passar o dia olhando pro teto esperando a inspiração bater. Músico tem que suar a camisa o dia inteiro, como qualquer outro trabalhador.
Qual é o papel da música em sua vida e como ela influencia sua perspectiva de mundo?
Além de ser uma válvula de escape para as emoções que não consigo nomear ou até mesmo perceber, a música cria minhas realidades. É ela que traz pra minha vida as pessoas que chamo de amigos, e é ela que faz com que eu possa ter minha vida pessoal tranquila, apesar de todo o trabalho físico bem árduo. Então ela é meio e fim ao mesmo tempo, e isso é muito f#da.
Para encerrarmos, dá pra viver de rock no Brasil?
“Dá pra viver” é uma expressão complexa, porque tem pessoas que vivem de coisas super especificas e tem outras que vivem com bem pouco. Ou seja, dá pra viver de vários jeitos diferentes. Mas acho que existe um ponto de equilíbrio entre fazer algo que as pessoas curtam e se dedicar intensamente à parte que ninguém quer abraçar, que é ser o empresário da sua música. E aí, sim, dá pra viver disso, mas esse é um longo papo que fica pra uma próxima conversa...
Site oficial: https://www.jimmylondon.com.br/
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