ENTREVISTA: Rob Rock rejeita o rótulo white metal e comenta sua jornada na música

 


Em uma conversa envolvente e repleta de insights, tive a oportunidade de entrevistar Rob Rock, cuja notável carreira abrange décadas de dedicação à música e a Cristo. 

Ele compartilhou suas experiências e desafios como músico, desde sua primeira incursão na bateria até tornar-se um talentoso vocalista. Além disso, falou sobre sua fé, que sempre esteve presente em sua trajetória, e como ela influencia a composição de suas músicas e o relacionamento com seus fãs.

Durante a entrevista, Rob também revelou detalhes sobre a parceria com Chris Impellitteri, que está prestes a render mais um álbum de estúdio, e opinou sobre o rótulo white metal. Com a perspectiva de sua vindoura turnê pelo Brasil acompanhado pelo também cristão Narnia, por fim, prometeu um show no qual cantará músicas de seus álbuns solo e algumas surpresas do repertório do Impellitteri.

Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Transcrição: Beatriz Cardoso

Fotos: facebook.com/robrockcom


Como você descreveria sua jornada na música desde o início até agora?

Descreveria como notavelmente interessante e excepcionalmente longa. Muitas bandas, cantores e cantoras não sobrevivem aos primeiros cinco ou seis anos, já eu venho fazendo isso por um bom tempo. O quê, quarenta anos? Não sei ao certo, mas se tomarmos como ponto de partida o “Project Driver”, do M.A.R.S. (1986), tem sido uma longa e frutífera trajetória. Estou feliz por ainda estar na ativa.


E quando você considera essa jornada, quais foram os momentos-chave que a moldaram?

Acho que o primeiro momento-chave foi provavelmente com a minha banda de clube chamada Vice. Na época, eu era baterista e costumava fazer backing vocals. Então, eles me pediram para ser o vocalista principal. “É sério? Beleza!” Aceitei o desafio. Naquela época, tocávamos seis noites por semana. Logo depois, sentimos vontade de tocar músicas mais pesadas. Então, chamamos Chris Impellitteri para a guitarra e passamos a tocar muitas músicas do Deep Purple e do Rainbow, entre outras bandas. A partir daí, consegui a vaga no M.A.R.S., em Los Angeles, ao lado de Rudy Sarzo, Tommy Aldridge e Tony MacAlpine. Quando assumi, nem sabia que seria o primeiro álbum que eu iria gravar. Antes disso, eu só cantava ao vivo, nunca havia estado em um estúdio de verdade. Tinha feito algumas demos, mas nunca trabalhado com um produtor nem gravado um álbum completo. Então, acho que essa experiência com o M.A.R.S. foi uma das principais. Além disso, os vários álbuns que fiz com o Impellitteri também foram significativos. Passamos muitas horas, só o Chris e eu no estúdio, trabalhando e aperfeiçoando nossa arte, e aprendi muito durante esse tempo. Até cheguei a tocar guitarra base para ele enquanto ele gravava os backing vocals para mim. Foi bem... bem louco, se pensarmos no todo.


Em que momento você decidiu seguir uma carreira na música? Houve algum álbum que você ouviu ou um show a que você assistiu que despertou esse desejo?

Foi por volta dos meus 16 anos. Eu estava sempre ouvindo rádio e gostava de bandas como Bad Company, Free e Led Zeppelin, entre outras que tocavam no rádio. Mas o primeiro show que eu vi foi do Grand Funk Railroad, com Mark [Farner], Don [Brewer] e Mel [Schacher], e assim que vi aquilo, pensei: “Nossa, é isso que eu quero fazer da vida!” Na época, eu era baterista, então o Don foi uma grande influência para mim. Além de ser um ótimo baterista, também era um ótimo cantor. Sempre fui atraído por bandas que tinham muitos vocalistas, como Styx, Kansas e Boston, entre outras. Enquanto aprimorava minha técnica na bateria, também fazia muitos backing vocals. Não queria ser apenas baterista, mas também cantor.


E quais artistas ou bandas foram suas maiores influências ao longo dos anos?

Acho que o Foreigner na fase Lou Gramm. Ele é um dos maiores. E, claro, Ronnie James Dio e Rob Halford; esses são os três caras de que eu mais gosto. Admiro Freddie Mercury, do Queen, e amo sua versatilidade, assim como Paul Rodgers, do Bad Company. Amo a pegada soul que ele coloca em suas músicas. Dito isso, eu tentava absorver tudo o que podia de todos esses estilos diferentes dentro do hard rock. Era incrível quantos grandes artistas havia por aí.



A religião sempre foi uma parte significativa da sua vida, ou é algo que se desenvolveu ao longo do tempo?

Ela sempre esteve presente. Nasci em um lar cristão, meus pais me ensinaram a orar e me levavam à igreja todas as semanas e eu fiz catequese e coisas do tipo. Então, sim, fui doutrinado na fé cristã e, depois, quando a música se tornou a minha obsessão, me concentrei muito nela; dos 16 aos 25 anos, o que eu realmente queria era ser um astro do rock e coloquei todos os meus esforços nisso. Não me concentrei tanto na fé cristã nessa época, até que finalmente retornei ao meu lugar de origem. Foi quando disse a mim mesmo: “É nisso que acredito, é isso que sinto em meu coração”, e passei a colocar isso nas minhas letras. O Chris me deu carta branca: “Você é o cantor, escreva o que bem entender, você tem o meu ‘sim’”. Então, pude escrever muitas letras que tinham significados cristãos para o Impellitteri.


E como a sua fé influencia na criação da sua música e se reflete nas suas letras?

Sempre quero dizer algo positivo ou algo relacionado à Palavra. Acho que o Velho Testamento e o Novo Testamento são puro heavy metal. O Livro do Apocalipse e o fim do mundo têm muitas imagens legais e histórias poderosas que gosto de usar como inspiração para escrever minhas letras. Muitas vezes, reflito ou uso alguns versículos da Bíblia de uma maneira que acho interessante, em um contexto rock ‘n’ roll.


O que você pensa sobre o rótulo white metal?

(Pensativo) Uma vez cheguei perto de ser contratado por um selo cristão. Foi pouco antes de eu começar o Driver com o Roy Z, em 1987/1988. Eles me disseram: “Rob, se você quer estar em nosso selo cristão, precisa ter uma igreja por trás, precisa ter um ministério e precisa estar alinhado tanto com o selo e quanto com a igreja”. Eu disse: “Sabe de uma coisa? Prefiro ser criativo sem qualquer restrição. Já fiz alguns álbuns e não preciso de ninguém me dizendo o que escrever. Minha fé é entre mim e Deus, e o que coloco na minha música vem do meu coração”. Decidi seguir meu coração e recusei a oferta. Desde então, nunca mais considerei estar em um selo cristão. O Impellitteri explodiu no Japão sem nunca ter estado num selo cristão. Acredito que o Senhor me recompensou por ter sido fiel ao que acreditava ao invés de tentar seguir alguma tendência.

Para mim, white metal tem uma imagem um pouco negativa no grande mundo secular. Eles tentam colocar todas as bandas cristãs em uma caixa e dizer: “Ok, isso é white metal”, como se fosse menos, como se não fosse tão bom quanto o metal “de verdade”, sabe? E eu não curtia... bem, talvez “curtir” não seja a palavra certa... eu não dava muita bola para bandas cristãs que tentavam imitar ou copiar bandas seculares populares. Se o Whitesnake, o Queensrÿche ou qualquer outra banda estivesse indo bem, alguém ia lá copiá-la com invólucro cristão. Sempre achei que as pessoas deveriam fazer o que vem do coração delas, e que esse deveria ser o foco, não tentar imitar os outros. Aprendi a não tentar ser algo que não eu mesmo quando estava fazendo o álbum “Grin and Bear It” (1992) com o Impellitteri. 



O que exatamente isso significa?

O “Grin and Bear It” foi um álbum experimental. Chris e eu estávamos tentando nos adequar à época e conseguir um bom contrato de gravação, então o que fizemos juntos foi mais moldado pelo que estava tocando no rádio naquele momento. Não desgosto do álbum, mas acredito que realmente encontramos nossa identidade quando nos concentramos em fazer aquilo que fazemos naturalmente como indivíduos nos álbuns “Victim of the System” (1993) e “Answer to the Master” (1994). Eles são o verdadeiro negócio, e acho que as pessoas percebem a autenticidade quando a veem, a ouvem, a sentem e se conectam com ela. Percebem que vem do coração, que não é fabricado, nem inventado.


O selo Hellion Records está aos poucos relançando a discografia do Impellitteri em CD no Brasil, e o “Answer to the Master” foi um dos últimos a serem relançados. Você poderia falar um pouquinho sobre ele?

Gosto muito desse álbum. Foi nele que o Chris e eu nos encontramos. Estávamos em um bom momento, realmente focados no mercado japonês na época. O “Victim of the System” tinha sido lançado por lá e feito um enorme sucesso, o que nos incentivou a fazer o “Answer to the Master” da forma como fizemos. Gosto muito da faixa título, é claro.


Você sente que há algum preconceito em relação a artistas abertamente cristãos na cena do metal?

Sinto. Se as pessoas acham que vão ser julgadas [pelos cristãos], elas ficam na defensiva, sabe? Mas minha experiência na cena tem sido particularmente boa. Não julgo as pessoas, deixo que sejam quem são; cabe somente a Deus julgá-las, aprendi isso com meu pai. Quando ele se converteu ao cristianismo, pessoas da igreja vinham até nossa casa e o viam tomando cerveja na varanda, e mesmo assim, diziam: “Não estamos aqui para julgar você. Não nos importamos se você toma cerveja; isso é entre você e Deus, estamos aqui apenas para amar você como nosso irmão”. Naquele momento, eu soube que é mais importante amar os outros do que tentar impor qualquer coisa ou minha fé a eles. Acho que quando você vive sua fé, as pessoas veem e perguntam sobre ela, e quando perguntam, é porque realmente querem saber. É aí que você pode se conectar com elas nesse nível. Fora disso, vamos nos divertir e rock ‘n’ roll.


Pensando nesse “vamos nos divertir e rock ‘n’ roll”, para você estaria tudo bem tocar em um festival no mesmo palco com um artista ou uma banda abertamente satanista?

(Pensativo) Acho que sim, mas toparia fazer isso, a menos que houvesse outras bandas que não fossem satanistas. Porque não toco esse tipo de música pesada, sabe? (Imita urros guturais) [Risos.] Já fomos convidados para festivais onde só havia bandas de metal extremo e concluímos que não nos encaixaríamos muito bem. Acredito que, se houvesse outras bandas com uma abordagem diferente, talvez eu topasse ir lá com minha fé. Sou forte o suficiente em minha fé para não ter medo de estar com pessoas de diferentes perspectivas. Para mim, as pessoas são pessoas, e tudo o que realmente precisamos é nos amar e não nos julgar. Eu, particularmente, não gostaria de ver um show satânico, não assistiria a isso, mas talvez alguém na plateia esteja procurando respostas, sabe?



Os fãs brasileiros estão ansiosos pela sua chegada ao país. O que eles podem esperar dos seus shows no Brasil?

Vou tocar com o Narnia. Vários dos caras do Narnia gravaram comigo nos meus álbuns solo, então nos conhecemos bem. Vou tocar músicas de todos os meus álbuns solo e, provavelmente, algumas do Impellitteri. Acho que será um ótimo show!


E, após a turnê no Brasil, você tem planos para novos projetos musicais ou colaborações com outros artistas?

Após a turnê, vou começar a trabalhar em um novo álbum do Impellitteri. Irei para o estúdio para gravar os vocais para esse novo projeto. Além disso, já tenho várias músicas escritas para um novo álbum solo. Depois de concluir as gravações com o Impellitteri, provavelmente continuarei trabalhando em algumas dessas músicas também.


Você poderia me dar uma prévia do que está por vir em termos musicais?

No que diz respeito ao Impellitteri, estamos continuando de onde paramos no último álbum [“The Nature of the Beast” (2018)], e o Chris escreveu algumas músicas particularmente boas, muito energéticas, sabe? Há muita energia rolando, e eu posso perceber algumas influências do Deep Purple, especialmente das músicas mais antigas deles, em algumas das novas músicas que ouvi. Além disso, há um toque de Van Halen também. Acredito que as músicas estão realmente fortes neste novo álbum que estamos trabalhando, e estou ansioso para terminar de escrevê-las e, é claro, gravá-las.



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