Também compartilhou insights exclusivos sobre o processo por trás de seu álbum mais recente, “MEGALOMANIUM” (Frontiers Records, 2023), desde o significado do título até a exploração de novas direções musicais. Com uma confiança renovada impulsionada pelo sucesso anterior e pela coesão dentro do grupo, e independentemente das expectativas do tacanho público do hard rock e às pressões da indústria, eles abraçaram a liberdade de experimentar e se expressar, permanecendo firme em sua visão artística e buscando autenticidade em cada faixa.
A experiência de fazer shows pelo mundo proporcionou ao Eclipse uma visão única das diferentes reações do público em vários países. Entre os momentos mais memoráveis dessas experiências globais, Mårtensson destaca a inusitada abertura para o My Chemical Romance. Ele encerra prometendo uma experiência sonora envolvente e poderosa para o novo álbum do W.E.T. e comenta a complexidade logística de planejar e executar uma turnê da banda.
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Fotos: EclipseMerch.com/Divulgação
O Eclipse será uma das atrações do Summer Breeze Brasil. Como você está se sentindo sobre essa oportunidade de se apresentar em um grande festival no país?
É incrível. Desde o primeiro dia, sonhávamos ir para a América do Sul, e ao longo dos anos nunca foi possível, mas agora está acontecendo e estou superanimado.
Como esta será sua primeira vez no Brasil, há algo específico que você gostaria de experimentar ou aprender sobre a cultura brasileira durante a estadia?
Vou comer e beber até ficar gordo e bêbado! [Risos.]
Como vocês estão planejando o setlist para o festival? Haverá alguma surpresa ou adaptações específicas para o público brasileiro?
O setlist não está definido. Costumamos fazer isso de última hora. Acho que tocar muitas músicas novas talvez não seja o melhor ponto de partida, mas provavelmente vamos tentar tocar músicas de todos os discos, porque nunca estivemos aí antes.
Pelo que você vê nas redes sociais, o que espera da recepção dos fãs brasileiros?
Sempre ouvi que os fãs brasileiros são loucos, né? [Risos.] Então imagino que seja como a Espanha, que são os fãs mais loucos da Europa, vezes 10. Vamos ver. Vai ser divertido. Ouvi tantas coisas boas sobre vocês. Estou realmente ansioso.
Há alguma banda ou artista brasileiro que você gosta? Se sim, quem são eles?
Sepultura, é claro. E o Electric Mob. Essa molecada é realmente boa. Mande um ‘oi’ para eles! [Risos.]
Logo após o Summer Breeze, você retorna ao Brasil, desta vez solo, para participar da Hard N Heavy Party em São Paulo (ingressos aqui). Você pode nos dar algumas dicas sobre o que podemos esperar?
Vou tocar muita coisa do Eclipse, é claro, mas provavelmente tocarei algumas músicas dos outros projetos também. Seria legal tocar um pouco de Nordic Union ou tentar tocar algumas músicas que normalmente não toco.
Você já trabalhou com Chez Kane, John Corabi ou Robin McAuley antes?
Já os conheci todos. Masterizei o áudio para ambos os álbuns da Chez Kane [“Chez Kane” (2021) e “Powerzone” (2022)], então a encontrei algumas vezes, e abrimos para o The Dead Daisies [banda da qual John Corabi é vocalista] na Alemanha. Também conheci o Robin no [mesmo] festival. Ele tocou com o Michael Schenker [Group], e trocamos uma ideia. Sujeito muito gente boa.
Gostaria de falar um pouco sobre o álbum “MEGALOMANIUM”, começando pelo título, que é bastante intrigante. Como você chegou a esse nome e qual é o significado por trás dele?
O primeiro título de trabalho era “MEGALOMANIA”, mas, se você pesquisar no Google, encontrará um milhão de resultados. No estilo típico do Eclipse, inventamos o nosso próprio nome. “MEGALOMANIUM” faz parte de um plano maior. Acho que [neste álbum] ficamos um pouco convencidos e simplesmente enlouquecemos criativamente. Tentamos muitas coisas novas, adicionamos um novo elemento, coisa que nunca fizemos antes. Toda a programação de turnês foi muito megalomaníaca também. As coisas estão andando a passos largos. Chegamos no ponto da carreira em que podemos fazer o que quisermos, sem medo de tentar coisas novas e ser um pouco mais ousados, eu acho.
O press-release menciona exploração de diferentes direções musicais. Você pode nos contar mais sobre isso?
Arriscamos um pouco de punk rock, um pouco de emo. Gostamos de adicionar novas influências que são partes essenciais do que somos, mesmo que ainda acabemos soando como o Eclipse. Queremos tornar [nosso som] ainda mais diverso; [o álbum] é como um diário de onde estamos hoje na produção musical. Não queremos fazer o mesmo álbum repetidamente, queremos tentar coisas novas o tempo todo.
O press-release diz ainda que a banda entrou no estúdio com muita confiança. O que ajudou a alimentar essa confiança e como isso se refletiu no álbum?
Acho que o sucesso dos álbuns anteriores, com todas as [subsequentes] turnês, nos deu muita confiança. Além disso, somos bons amigos; não há brigas internas, estamos juntos como um só. Isso nos dá muita confiança. Sentimos o gosto do sucesso e do fracassos juntos, o que é realmente importante. Somos como irmãos.
Quais são suas músicas favoritas em “MEGALOMANIUM”?
“The Hardest Part Is Losing You” é uma das minhas músicas favoritas. Acho que é legal porque é meio punk, o que adoro. Gosto também de “Anthem”.
Sabemos como o público de hard rock pode às vezes ser tacanho. Como tem sido a reação dos fãs ao novo álbum até agora?
Olha, existem tantas regras no hard rock; fala-se como ele supostamente é selvagem e livre, mas não é. Tocar hard rock é como caminhar por um campo minado. Mas algumas pessoas realmente amaram o álbum. Outras acharam ruim por ser muito pop ou muito punk. Não dá para agradar a todos. Se você agrada a todos, então não agrada a ninguém. Então, a coisa mais importante como banda é que escrevemos a música que queremos escrever no momento e não pensamos muito sobre o que os outros podem gostar, porque assim que você começa a pensar, está ferrado, porque não está mais fazendo por si mesmo. É por isso que cada álbum [nosso] é diferente. Mas é aquilo: se fazermos algo diferente, algumas pessoas vão reclamar. Se fizermos o mesmo álbum repetidas vezes, outras vão reclamar. Então, meio que ficamos acima disso. Não nos importamos tanto [com a opinião alheia], para ser honesto. Mas também não queremos ser como o AC/DC. Depois de um tempo, é um beco sem saída e está fadado ao fracasso.
O Eclipse é considerado um dos maiores nomes do rock da Suécia nos últimos anos, com milhões de reproduções e ouvintes mensais nas plataformas digitais. Como vocês lidam com esse sucesso e a pressão para continuar crescendo como banda?
[Pensativo] Não sinto nenhuma pressão, para ser honesto. Porque estamos fazendo o nosso melhor o tempo todo. Nós realmente fazemos os melhores discos que podemos. Nem todo show será o melhor show que já fizemos. Mas sempre tentamos fazer o melhor show possível dadas as circunstâncias. Às vezes, somos a melhor banda ao vivo e às vezes não somos. Mas lutamos para ser a melhor o tempo todo.
Você fez turnês e shows em vários países. Dá para notar diferenças significativas nas reações do público?
Com certeza. Diferentes países têm maneiras diferentes de mostrar sua apreciação. Na Suécia, todo mundo fica meio paradão e só aplaude depois. Se você vai para a Espanha, as pessoas enlouquecem e cantam do início ao fim. E ouvi dizer que vocês brasileiros podem ser bem entusiasmados. Então, não vamos decepcionar vocês.
Quais foram alguns dos momentos mais memoráveis dessas experiências ao redor do mundo?
Quando abrimos para o My Chemical Romance, pensei que o público deles ia nos odiar. Foi em uma arena [em Praga, República Checa] na Europa. Pensamos que iam odiar nossa banda. Mas absolutamente amaram. Eles enlouqueceram. Muitos jovens, a maioria, garotas. E realmente pensamos que iam jogar tomates podres em nós. Mas realmente abriram seus corações e abraçaram a banda. E depois desse show, a República Checa se tornou um dos maiores países do mundo para nós no Spotify. Então, ganhamos muitos fãs.
Você pode falar um pouco sobre essa experiência específica com o My Chemical Romance?
Foi uma ótima experiência. Recebemos o convite da Live Nation, que fez a turnê e nos perguntou se gostaríamos de participar como banda de abertura para eles. E eu realmente amo My Chemical Romance. É uma das minhas bandas favoritas mesmo. Então, foi fantástico. Em seguida, a Live Nation nos deu a oportunidade de abrir para o Def Leppard e o Mötley Crüe, o que também foi muito bom para nós.
O que mais você ouve em casa que seus fãs podem se surpreender em saber?
Bem, eu ouço de tudo. Gosto de indie rock. Gosto muito de skate punk. Amo punk rock e rock and roll. Gosto de thrash metal. Adoro música folk e erudita. Sou bem eclético. Não ouço apenas hard rock. Muitas pessoas acham que eu amo AOR, Journey e coisas assim, mas na verdade não tenho nenhum disco do Journey. Não é uma banda de cabeceira de jeito nenhum. Nunca fui muito chegado. As pessoas pensam que sou super influenciado por eles, mas na verdade não sou nem um pouco.
Você pode nos contar mais sobre o novo álbum do W.E.T.? O que os fãs podem esperar em termos de estilo, temas e evolução musical em comparação com os álbuns anteriores?
Acho soa um pouco mais rock. Realmente gostei do resultado. Sei que todo mundo diz que seu último álbum é o melhor, mas este é provavelmente o nosso melhor álbum mesmo. As músicas são muito boas. Meu favorito, até então, era o anterior [“Retransmission” (Frontiers Records, 2021)]. Mas acho que este é um nível acima, um pouco mais intenso.
Há demanda por shows do W.E.T. em todo o mundo. Por que não fazê-los?
Bem, Jeff é provavelmente o maior empecilho porque ele mora em Los Angeles, que fica quase do outro lado do mundo de onde estamos [na Suécia]. Então, fazer uma semana de turnê envolveria muita logística e coisas do tipo. E estamos muito ocupados. Ele está muito ocupado. Tentamos muitas vezes, mas meio que desistimos depois de um tempo. Quando ele pode fazer turnê, nós não podemos, e vice-versa. E apesar do que ele diz, acho que consegue cantar um show inteiro [do W.E.T.]. Sei que ele sempre quer cantar confortavelmente. Então, sempre quando escrevo as músicas, faço ele cantar em registro mais alto o tempo todo, só para irritá-lo. Só para extrair um pouco mais dele. Ele sempre acerta todas as vezes. De qualquer forma, é difícil cantar um set completo de músicas com vocais muito agudos. Não é tão fácil quanto ele faz parecer que é. E com a idade, fica cada vez mais difícil. Eu, particularmente, estou bem ainda. Mas todos nós ouvimos como Jon Bon Jovi vem soando, certo?
Você ainda tem algum sonho em relação à sua carreira musical?
Meu sonho é fazer o álbum perfeito, é escrever a música perfeita. Não acho que o melhor álbum do Eclipse já tenha sido feito. Acho que o melhor álbum do Eclipse está no futuro. Sempre pensei isso, e ainda considero isso como verdade. E quero acrescentar que acho que minha maneira de compor está mudando. Sim, a música perfeita também está no futuro.
Mas depois que você escrever a música perfeita, fizer o álbum perfeito... o que faria depois?
Acho que fazer o álbum perfeito é como encontrar o fim do arco-íris. Não vai acontecer, mas você tenta. Nunca vou escrever a música perfeita. Mas eu tento.
Para concluir, gostaria de saber a diferença entre uma boa música e uma ótima música.
Uma boa música pode ser perfeita em todos os sentidos, mas uma ótima música deixa uma impressão duradoura. Arrepia. Algumas músicas simplesmente têm isso; você sente a música mais do que a ouve. E essas são as melhores. Muito difíceis de escrever. A maioria das bandas só tem uma ou outra. Mas às vezes a magia acontece. Não existe fórmula; às vezes elas simplesmente acontecem.
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