ENTREVISTA: Derrick Brumley fala sobre o impacto da pandemia em “Paradox”, novo álbum do Conquest


Formado em 1988 em St. Louis, Missouri, o Conquest é uma instituição do heavy metal com contornos de thrash e power metal do meio-oeste dos Estados Unidos. Sob a liderança do vocalista e guitarrista Derrick Brumley, o quarteto lançou em abril seu décimo álbum de estúdio, “Paradox”, pela Dark Star Records. Concebido em meio à pandemia e fortemente influenciado por ela tanto na forma quanto no conteúdo, o disco é capaz de surpreender, superando lançamentos de grupos mais consagrados nas listas de melhores do ano. Neste bate-papo exclusivo, Brumley fornece alguns detalhes interessantes acerca do processo criativo e da diversidade que faz do Conquest um nome a ser descoberto pelos ouvintes que se restringem ao mainstream. Boa leitura!


Por Marcelo Vieira


“Paradox” é descrito como o álbum mais completo do Conquest até hoje. Você poderia explicar o que isso significa? É a variedade musical? A temática das letras?

É completo para nós devido a músicas fortes. Também é muito diversificado. Um disco de heavy metal muito verdadeiro, musical e liricamente, com 15 faixas absolutamente essenciais. Tem um som distinto e definitivamente a cara do Conquest, mas com bastante diversidade.


O release menciona que o álbum levou três anos para ser feito. Quais foram os maiores desafios enfrentados durante esse período? A pandemia influenciou a composição?

O maior desafio deste disco foi que a maior parte dele foi feita durante a pandemia, o que complicou algumas coisas e facilitou outras. E sim, a composição foi influenciada pela pandemia. Então temos músicas como “Babylon America” e “World of Hate” que surgiram nesse período em termos de conteúdo lírico.


Como é o processo de composição no Conquest? É colaborativo ou você assume a liderança na maioria das músicas?

Definitivamente, a composição envolve todos os músicos da banda. Sim, eu proponho a maioria dos temas e escrevo as letras, mas os caras que dão forma ao som ao longo do disco. Algumas músicas são escritas em grupo e outras em partes individuais e depois arranjadas com a banda. Tentamos fazer tudo presencialmente, o que parece ser a maneira certa de se fazer.



“Walking Dead”, “The Writing's on the Wall” e “Babylon America” são três faixas de destaque, na minha opinião. Você poderia nos contar um pouco mais sobre a inspiração por trás delas e o que as torna especiais?

A inspiração por trás de “Walking Dead” veio do consumo desenfreado de drogas nas ruas. Em cada esquina, pelo menos na América, há um dependente químico como um morto-vivo. Se não existe pelo menos um na sua cidade, com certeza existem vários numa cidade perto de você. “The Writing's on the Wall” é bem autoexplicativa; um relato da situação política atual na América. Já “Babylon America” foi escrita durante a pandemia. A primeira parte fala de quando não podíamos ir a lugar nenhum. Ninguém sabia o que estava acontecendo, como as coisas iam se desenrolar, e a música se desenvolveu ao longo de quatro meses, procurando uma vibe forte, enérgica e agressiva, mas com uma letra de tom sombrio que representa a queda de uma grande nação, um paralelo com a antiga Babilônia bíblica.


A música que mais me chamou a atenção, no entanto, foi “Save Me”. O que está por trás de sua letra provocadora?

“Save Me” foi uma faixa muito legal de montar, com uma vibe old school e algumas reviravoltas modernas. Liricamente, surgiu com a crise do [opioide] fentanil nos Estados Unidos e todo o abuso de heroína com os jovens morrendo de overdose. Chama-se “Save Me” porque definitivamente precisamos ser salvos.


O álbum apresenta um cover da clássica “Man on the Silver Mountain” do Rainbow. O que motivou essa escolha?

Foi uma escolha fácil para mim. Trata-se de uma música que sempre esteve na minha playlist desde que eu era criança e, para mim, é uma daquelas músicas de cair o queixo. Ronnie James Dio à frente do Rainbow foi muito influente na minha juventude, e continuou sendo depois, quando foi para o Black Sabbath.


É impossível falar sobre o álbum sem mencionar seu estilo vocal único. Como ele contribui para o som do Conquest? Na sua opinião, esse é o principal diferencial da banda?

Nunca me considerei único. Acho que tenho um timbre distinto, mas sempre busco fazer boas performances, sejam elas pesadas ou suaves, dependendo do que a faixa possa exigir. Dito isso, acho que a banda tem muitos sons únicos. Acho que o trabalho de guitarra do Mike [Crook] é distinto por si só. Também acho que o Rob [Boyer] tem um estilo muito único que muitos baixistas não têm mais. A arte de tocar o baixo na linha de frente se perdeu um pouco e ele faz um ótimo trabalho nisso. Lee [Skyles, baterista] é excepcional, forte, agressivo, com uma habilidade fenomenal de interpretar uma música. Isso ajuda muito a música. Então, eu diria que o som que é criado é o principal diferencial da banda, não apenas o vocal.



Você cuidou da produção e mixagem de “Paradox”. Como foi a experiência de gravar o álbum como banda enquanto também assumia esse papel adicional?

Tenho lidado direta ou indiretamente com a produção nos discos nos últimos 20 anos. Definitivamente, tivemos alguns altos e baixos ao longo dos anos com a produção, acertando ou não. Mas acho que mandamos bem nesse e o som é muito complementar. Não gosto de discos superproduzidos. Gosto daqueles que têm a cara de uma banda, não de um produtor. Tentamos manter um som muito natural e ao vivo na mixagem. Acho que conseguimos isso em “Paradox”. Tudo soa limpo, claro e forte. Você ouve cada instrumento na mixagem e consegue identificar o que ele traz à mesa. Manter o som em um formato real, orgânico, é muito importante para mim. Então trabalhamos duro para conseguir isso. É divertido também. Sou um cara muito prático quando se trata de produção e de como as coisas soam.


Embora “Paradox” seja puro heavy metal, há muitas variações para escolher. Você poderia nos contar um pouco mais sobre as diferentes influências que a banda incorporou no álbum?

Antes de mais nada, obrigado por notar. Sim, “Paradox” é um álbum muito diverso. Foi muito divertido criá-lo por causa disso. Na verdade, eu diria que nossas influências vão de Judas Priest a Iron Maiden, passando por thrash old school como Testament e hard rock old school como Queen. Todas essas influências brilham neste disco. Mas quando fazemos um disco, realmente nos esforçamos para manter nossa própria identidade sem invadir o território alheio. Copiar é fácil porque se baseia em algo que já foi feito. Neste caso, acho que incorporamos influência suficiente com nosso próprio toque em algumas boas músicas de hard rock e heavy metal.


Considerando essas diferentes influências, a banda planeja explorar novos horizontes sonoros em lançamentos futuros?

Sempre exploramos novas ideias quando fazemos novos discos. Não consigo pensar em um álbum do Conquest que soe como o anterior, sem perder nossa identidade. Nos esforçamos muito para não repetir cada ideia toda vez na mesma linha de música. Porque, à medida que o tempo passa, a música muda e a percepção da música muda. Mas ainda acho que uma pegada old school, pelo menos para o Conquest, é onde vamos ficar.



O Conquest foi formado nos anos 1980. Você pode nos contar um pouco sobre os primeiros dias da banda? Como era a cena metal no meio-oeste naquela época e como influenciou o som de vocês?

Somos da época em que o heavy metal estava em seu potencial máximo na sociedade. Foi bom, mas foi ruim. Éramos uma banda de heavy metal em um mundo de pop metal. Então, o meio-oeste era muito movido pela MTV. Sempre recebíamos tudo com atraso, mas nos saímos bem. Tocamos por todo o meio-oeste e nos estados vizinhos, e voltamos para um som mais pesado no final dos anos 1990.


Como o som da banda evoluiu ao longo dos anos, mantendo-se fiel às suas raízes? E qual é o segredo para permanecer fiel às suas raízes?

Eu diria que a evolução do tempo e do conhecimento faz com que uma banda que permanece unida evolua, goste você ou não. Seu som muda um pouco. Manter-se fiel ao old school é bem simples para nós porque não tentamos ser algo que não somos. Muitas bandas perseguem ideias, tendências e modismos. Nós não.


Existem planos para uma turnê mais extensa para promover “Paradox”?

Sim, temos alguns shows marcados para o verão [no hemisfério norte]. Haverá muitos mais shows no final do outono, início do inverno. Definitivamente, mais datas serão anunciadas.


Para encerrarmos, o que você gostaria de dizer aos fãs de metal que ainda vão conferir “Paradox”? 

Como sempre, a música é uma jornada. Este disco não é diferente. “Paradox” tem muitos picos e vales. E se você gosta de metal, acho que vai curtir esse disco. Confira. É um trabalho feito com muito amor, muita “porradaria” e que expressa uma verdadeira angústia em relação à sociedade.



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