ENTREVISTA: Mike Portnoy comenta volta ao Dream Theater e antecipa detalhes sobre novo álbum

 


Após um hiato de mais de uma década, Mike Portnoy está de volta ao Dream Theater e a empolgação em torno de sua reunião com os colegas nunca foi tão palpável. Em uma conversa recente com este jornalista — na função de quebra-galho para o Whiplash.Net —, Portnoy expressou sua animação e entusiasmo por reviver essa era icônica da banda e compartilhar a experiência com os fãs. Ele destacou que a volta ao Dream Theater não é apenas um retorno a uma parte importante de sua carreira, mas também um compromisso total com a banda, priorizando o grupo acima de seus outros projetos musicais. 

Também falou sobre a expectativa para o novo álbum do Dream Theater, que promete ser uma continuação do aclamado “Black Clouds & Silver Linings” (2009) e um reflexo da sonoridade clássica da banda. Além disso, compartilhou suas memórias das visitas ao Brasil e expressou sua grande expectativa para a turnê de 40 anos da banda, prometendo um espetáculo repleto de energia e paixão para os fãs brasileiros. Com uma carreira marcada por momentos memoráveis e uma profunda conexão com o público, o baterista está pronto para embarcar nessa nova jornada com o Dream Theater e celebrar a música que define sua carreira.


Por Marcelo Vieira e Mateus Ribeiro

Fotos: Divulgação


Como é estar de volta ao Dream Theater?

É extremamente emocionante. Sei que para os fãs, já foi anunciado há uns oito meses, mas eles ainda não viram nós cinco juntos até o início da turnê. Então, acho que ainda pode ser inacreditável para algumas pessoas, mas para nós, que estamos no estúdio todo esse tempo, é muito real e muito empolgante.


Com seu retorno ao Dream Theater, como você planeja equilibrar sua agenda com seus outros projetos musicais, como Flying Colors e The Winery Dogs?

Ao reingressar no Dream Theater, eu fiz um compromisso de focar exclusivamente na banda, pelo menos nos próximos anos. Esse é meu único foco agora. Não há como fazer Dream Theater em tempo integral e ainda estar em todas as outras bandas que montei nos últimos doze anos. Não há tempo suficiente no mundo para fazer ambas as coisas. O Dream Theater é um compromisso em tempo integral. Então, estou totalmente focado no Dream Theater nos próximos anos e tudo o mais terá que esperar e veremos quais desses outros projetos sobrevivem a longo prazo.



Você acha que seu retorno ao Dream Theater afetará a criatividade ou o som das suas outras bandas?

Sim, absolutamente. E também afetará a capacidade de funcionamento. Se eu estiver na estrada com o Dream Theater por um ano e meio direto, de agora até o final de 2025, é tudo o que poderei fazer. Todos os meus outros projetos e bandas estão cientes do meu compromisso com o Dream Theater no momento. Então, eles sabem que tudo está meio que em espera enquanto eu me concentro no Dream Theater em tempo integral.


Um novo álbum já está em produção. Sei que você não pode dar spoilers, mas, na sua opinião, este novo álbum soa como uma continuação de “Black Clouds & Silver Linings” ou é algo diferente na carreira da banda?

Se eu for honesto, acho que é uma continuação direta de onde “Black Clouds” parou. Há um certo estilo que nós cinco temos quando escrevemos juntos. Se você ouvir os álbuns dessa formação, do “Scenes from a Memory” (1999) até “Black Clouds & Silver Linings”, verá que esse é o som e o estilo dessas cinco pessoas. Então, acho que isso é uma boa indicação do que esperar do novo álbum do Dream Theater. Definitivamente soa como o Dream Theater clássico.



Há planos para o Dream Theater fazer a parte 3 de “Metropolis” ou essa história está concluída?

Isso é algo sobre o qual ainda não estamos falando abertamente, então veremos.


Você já se apresentou no Brasil várias vezes, tanto com o Dream Theater como com outros projetos. Quais são suas melhores memórias daqui?

Ai, meu Deus, eu sinto uma conexão incrível com o Brasil e os fãs brasileiros. Sempre foi um dos meus lugares favoritos no mundo para tocar ao vivo. E acho que toquei especificamente em São Paulo com mais bandas minhas do que em qualquer outro lugar do mundo. Quero dizer, obviamente com o Dream Theater, mas também toquei no Brasil com The Winery Dogs, Sons of Apollo, Transatlantic, Neil Morse Band, Metal Allegiance, The Shattered Fortress… Também fiz shows com Stone Sour, Fates Warning e Avenged Sevenfold. Acho que toquei no Brasil com provavelmente mais bandas minhas do que em qualquer outro lugar do mundo. Então, obviamente, há uma conexão muito forte e de longa data.


Você ficou cerca de 13 anos afastado do Dream Theater. Há alguma música em particular que você está especialmente ansioso para tocar ao vivo?

Estou ansioso para tocar todas elas. Se você me perguntasse isso em 2010, eu diria que havia muitas músicas como “Pull Me Under” e “Metropolis” que, sabe, estávamos cansados de tocar milhares e milhares de vezes. Ou, falando por mim, eu talvez estivesse cansado de tocar. Mas agora, depois de não tocar nenhuma dessas músicas com os caras por quase uma década e meia, estou empolgado para tocar qualquer uma delas. 


Já faz muito tempo desde que o Dream Theater tocou músicas do primeiro álbum, “When Dream and Day Unite” (1989), ao vivo. Considerando a morte prematura do ex-vocalista Charlie Dominici, vocês vão tocar músicas desse álbum na turnê de aniversário como uma homenagem a ele?

Você terá que esperar para ver. Não gosto de revelar o setlist com antecedência. Prefiro manter a surpresa. Então, não vou dar spoilers.



Já que estamos voltando um pouco ao passado, gostaria de perguntar sobre um dos álbuns mais aclamados do Dream Theater, que, em meio às celebrações dos 40 anos da banda, também está celebrando seu 30º aniversário. Quais são suas lembranças de escrever e gravar o “Awake” (1994)?

Há três que me vêm à mente. Uma é que eu me lembro que foi pouco antes do meu casamento que estávamos fazendo o disco. Foi mais ou menos nessa época, 30 anos atrás, no verão de 1994. Então, lembro-me de estar preparando meu casamento ao mesmo tempo que estávamos fazendo o álbum, o que foi uma grande responsabilidade para conciliar. Também me lembro que foi uma época difícil porque [o tecladista] Kevin Moore nos disse que estava deixando a banda enquanto estávamos fazendo aquele disco. E também me lembro da perseguição de carro do O.J. Simpson acontecendo. Lembro-me de estar nos estúdios [One on One] em L.A. com [os produtores] Duane Barone John Purdell fazendo aquele álbum. E foi exatamente quando a fuga do O.J. aconteceu e rolou a perseguição de carro. Lembro-me disso acontecendo literalmente bem do lado de fora do estúdio.



Há algum álbum do Dream Theater que seja seu favorito?

Todos eles têm lugares diferentes na minha vida para diferentes tempos e sentimentos. Tenho uma atração pessoal por “Train of Thought” (2003). É um dos meus favoritos pessoais porque gosto muito do aspecto pesado da banda. Mas acho que os dois discos mais importantes, que todos concordariam universalmente, foram “Images and Words” (1992) e “Scenes from a Memory”. Ambos foram feitos em momentos cruciais para a banda. Esses dois álbuns foram feitos durante mudanças de formação. “Images and Words” foi o primeiro álbum com [o vocalista] James LaBrie e “Scenes from a Memory” foi o primeiro álbum com [o tecladista] Jordan Rudess. Em ambos os casos, estávamos saindo de tempos muito difíceis para a banda, que quase a levaram ao fim. Então, esses dois álbuns foram como uma questão de vida ou morte e muito importantes para nós. E acho que em ambos os casos, acertamos em cheio e produzimos dois verdadeiros clássicos. Tenho um sentimento muito semelhante com este próximo álbum. Acho que toda vez que você faz um álbum com uma nova mudança de formação, você se sente revigorado e renovado. E acho que “Images and Words” e “Scenes from a Memory” foram muito inspirados por uma mudança de formação. E digo o mesmo sobre o álbum que estamos fazendo agora. Você realmente sente essa energia e espírito renovados.


Se você tivesse que escolher uma música do Dream Theater para apresentar a banda a alguém que não conhece o som, qual seria?

Eu diria que “A Nightmare to Remember” seria uma boa escolha porque tem os três elementos que definem o som da banda, que são peso, progressividade e melodia. E geralmente as músicas mais longas do Dream Theater, como essa, “The Count of Tuscany”, “Octavarium” ou “In the Presence of Enemies”, as longas épicas, são sempre as que conseguem incorporar tantos tipos diferentes de ideias e estilos em uma música só. Então, honestamente, qualquer uma dessas seria uma boa representação. Mas vou dizer “A Nightmare to Remember” só porque é a última do tipo que nós cinco escrevemos juntos, antes deste novo álbum.



Como você descreveria sua contribuição para o álbum “Nightmare” (2010), do Avenged Sevenfold?

Bem, minhas contribuições foram estritamente como baterista. Eu não tive nenhuma contribuição criativa. O álbum já estava pronto quando o [baterista] The Rev faleceu. E, infelizmente, ele não conseguiu terminar suas partes de bateria, mas montou as baterias eletrônicas nas demos. Então, pude usar isso como um roteiro das intenções dele. E foi meu trabalho ir lá e terminar o que ele não conseguiu em razão de sua morte prematura. Mas é isso. Estava lá para fornecer um serviço aos caras, para terminar as partes de bateria do The Rev e ser um apoio no estúdio e também ao vivo quando saímos em turnê juntos.


Você mantém contato com os caras do Avenged?

Sim. Adorei o último álbum deles [“Life Is But a Dream…” (2023)]. Sei que muitas pessoas tiveram problemas com ele porque é muito diferente e desafiador, mas eu apreciei esse aspecto. Achei que eles realmente arriscaram bastante e mostraram a que vieram. Então, sim, falo com os caras ocasionalmente, como quando esse álbum saiu. Trocamos mensagens e eu os parabenizei e disse o quanto eu gostei. Eles sempre foram bacanas. Quando voltei para o Dream Theater, todos me enviaram mensagens dizendo o quão felizes estavam.



Quando entrevistei o guitarrista Jay Jay French, ele disse que você é o melhor baterista de rock da atualidade e que, se o Twisted Sister pensasse em fazer uma turnê ou gravar novamente, eles entrariam em contato. Se sua agenda permitisse, você aceitaria o convite?

Ah, com certeza! Quero dizer, me sinto como uma verdadeira irmã [“sister”] desses caras. É uma irmandade, não uma fraternidade. E sim, eles foram muito acolhedores comigo nos últimos dois anos da turnê de despedida deles. Foi uma honra tocar com eles durante esses últimos anos. E se eles decidirem fazer mais alguma atividade, seja ao vivo ou no estúdio, eu estaria absolutamente disponível. Seria uma honra continuar com eles se quiserem fazer qualquer trabalho futuro.



Em 2020, você afirmou que Eloy Casagrande tem muita habilidade, técnica e velocidade. Você acha que ele é o baterista perfeito para o Slipknot?

Bem, na verdade, não. O baterista perfeito para o Slipknot teria sido [meu filho] Max Portnoy. [Risos.] Mas o segundo melhor, depois de Max, é definitivamente o Eloy. Quero dizer, ele é uma escolha perfeita. Ele tem uma técnica incrível. Mas além da técnica, ele toca com muito espírito, garra e personalidade. E às vezes, para mim, isso é muito mais importante do que a técnica. Mas no caso dele, ele tem os dois. Ele tem tudo. E eu não poderia estar mais feliz por ele. Também estou feliz por Grayson [Nekrutman], que assumiu seu lugar no Sepultura, porque ele é outro dos meus bateristas favoritos na atualidade. Então, esse tipo de círculo, não um círculo, mas o triângulo entre Sepultura, Slipknot e Suicidal Tendencies com Jay Weinberg indo para o Suicidal, é o triângulo metálico perfeito. Acho que todos os três bateristas são incríveis e todos conseguiram ótimos trabalhos.


Para encerrarmos, qual é a sua mensagem para os fãs brasileiros?

Eu mal posso esperar para voltar ao Brasil com o Dream Theater. Não acredito que já se passaram 15 anos desde que nos apresentamos juntos no Brasil. Sei que vai ser mágico. Não consigo nem imaginar como será a energia e a empolgação no local. E estou ansioso para isso.


Confira as datas do Dream Theater no Brasil:



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