ENTREVISTA: Noodles (The Offspring) fala sobre os 30 anos de “Smash” e a conexão especial com os fãs brasileiros



O Offspring está prestes a desembarcar no Brasil com a turnê de seu mais recente álbum, “Supercharged”, e com uma novidade especial: a primeira performance ao vivo da música “Come to Brazil”, composta em homenagem aos fãs brasileiros. Nesta entrevista exclusiva, o guitarrista Noodles fala sobre o impacto dessa faixa, que brinca de forma carinhosa com o famoso pedido dos fãs online, e revela detalhes sobre os bastidores da turnê, incluindo as expectativas para os shows que acontecerão em março ao lado de Sublime, Rise Against e outros (ingressos aqui).

Durante a conversa, Noodles também revisitou momentos marcantes da carreira da banda, como o impacto de “Smash” (1994) no cenário musical dos anos 1990 e o significado pessoal de álbuns como “Conspiracy of One” (2001). Além disso, compartilhou suas influências, comentou a relação do Offspring com o metal e falou sobre novos artistas que o inspiram atualmente. Ou seja, uma leitura imperdível para quem deseja se aprofundar na história e nas curiosidades de uma das bandas mais icônicas do punk rock!  


Por Marcelo Vieira

Fotos: facebook.com/Offspring 


É impossível começar essa entrevista sem perguntar sobre “Come to Brazil”. Os fãs brasileiros ficaram lisonjeados com essa homenagem. O que há no Brasil que é tão inspirador ao ponto de motivar a composição dessa música?

Bom, na verdade, é meio que uma carta de amor bem-humorada aos fãs brasileiros. Sempre que postamos algo, não importa o tema—seja “Feliz aniversário, Dexter [Holland, vocalista]” ou “Estamos indo para o Brasil”—os fãs brasileiros comentam: “Come to Brazil, come to Brazil, come to Brazil” [“Venham para o Brasil, venham para o Brasil, venham para o Brasil”]. Nosso feed fica cheio disso. E não é só com a gente; conversamos com outras bandas e elas dizem o mesmo. Qualquer banda com fãs brasileiros passa por isso. Então, decidimos que esse fenômeno merecia uma música. Foi uma das poucas vezes em que começamos com a ideia da letra antes da música. Dexter pensou: “O que os fãs brasileiros gostam? Se eu fosse escrever uma música para o Brasil, o que eu faria?”. Assim surgiu a ideia de versos pesados e intensos, com aquela pegada de metal, porque sabemos que os brasileiros amam música pesada. Também queríamos um refrão para todos cantarem junto. E, no final, incluímos o famoso canto “olé, olé, olé”, que já ouvimos ao vivo entre as músicas. Decidimos incorporar isso à música.


Vi um comentário de fã no YouTube: “Vocês precisam tocar isso na Argentina!”. Rivalidades futebolísticas à parte, como os fãs de outros países têm reagido a “Come to Brazil”?

Ah, tem sido muito positivo. Na França, por exemplo, adoraram. Acho que estávamos lá quando a música foi lançada ou talvez um jornalista francês a tenha ouvido antes e disse: “Isso vai ser um sucesso aqui!”. Até agora, o feedback tem sido ótimo. Claro, acho que os argentinos estão um pouco chateados; eles querem uma música também. Eles gostam da nossa música, mas agora querem uma para eles.


Vocês se apresentarão no Brasil em março, ao lado de Sublime, Rise Against e outros. Como está a expectativa para tocar aqui, especialmente após o lançamento dessa música?

Estamos muito animados. Mas ainda precisamos ensaiar para tocar “Come to Brazil” ao vivo, porque não a tocamos em nenhum show até agora. Já fizemos três ou quatro músicas do álbum ao vivo, mas essa será novidade. Tenho o solo pronto, mas as partes pesadas e rítmicas precisam ser ajustadas. Eu, Jonah [Nimoy, guitarrista] e Dexter precisamos sincronizar tudo. Todd [Morse, baixo] já está pronto; com ele, não me preocupo.


O que os fãs podem esperar dos shows? Vocês vão trazer de volta alguma música que não tocam há algum tempo?

Estamos sempre buscando fazer isso. Agora, precisamos decidir quais músicas do novo álbum tocar. Mas sempre tentamos incluir aquelas que chamamos de “deep cuts”, ou seja, faixas de álbum favoritas dos fãs mais hardcore. Claro, também temos que tocar os clássicos como “The Kids Aren’t Alright”, “Self Esteem” e “Pretty Fly (For a White Guy)”. Essas não podem faltar.



A maioria das críticas que li sobre “Supercharged” diz que ele “traz elementos clássicos da banda, inclinando-se mais para o Punk Rock e o Hardcore, remetendo ao trabalho dos anos 1990 e início dos anos 2000”. Você concorda?

Sim, acho que boa parte desse álbum reflete nossas raízes. Até algumas músicas mais populares, como “Make It Alright” ou “Okay, But This Is the Last Time”, ainda têm aquela essência de guitarra base de punk rock. É algo meio “Ramones encontra Beach Boys”, especialmente em “Make It Alright”, que traz mais harmonia. Já músicas como “Light It Up” ou “Truth in Fiction” soam como o Offspring clássico. Às vezes, nos perguntamos: “Será que isso está muito parecido com algo que já fizemos?”. Mas, no fim, a música precisa soar bem para nós. Às vezes, é melhor deixar a música te guiar em vez de tentar forçá-la para outro caminho.


Em “Light It Up”, vocês usam palavras como Prometeu e Armagedom para transmitir uma energia que impulsiona. De onde veio a inspiração para essa letra?

É como uma música de luta, sabe? Sobre enfrentar injustiças do mundo, superar coisas que tentam te impedir de alcançar seus objetivos. É um grito de “Chega! Vou acender esse rojão e seguir em frente”. Tem tudo a ver com a ideia de “Supercharged”: estamos prontos, carregados, para conquistar o que queremos, sem passar por cima de ninguém, mas sem deixar que nos segurem.



2024 marca 30 anos desde o lançamento de “Smash”. O que você acha que fez o álbum ser tão bem-sucedido na época?

Nossa, não sei. Acho que o mundo ao nosso redor mudou mais do que nós mudamos. Entramos no estúdio para fazer aquele álbum como qualquer outro. Claro, “Smash” tem ótimas músicas—Dexter é um compositor incrível—e montamos um disco sólido.  

Mas o que realmente aconteceu foi o seguinte: antes de “Smash”, a indústria da música era controlada por grandes gravadoras. Então veio o Nirvana, derrubou essas barreiras e abriu espaço para o grunge. Alguns anos depois, foi a vez do punk rock.  

Eu já ouvia punk rock há quase 20 anos naquela época, então parecia que já estava na hora de o gênero ganhar reconhecimento. Essa combinação de timing e a qualidade das músicas é o que fez “Smash” se conectar com as pessoas.


Kerry King, do Slayer, disse uma vez que o Offspring não é “punk o suficiente” porque “não tem o mesmo nível de agressividade de outras bandas”. Como você descreveria sua relação com bandas de metal?

É boa, na maior parte do tempo. Sei que Kerry é, na verdade, fã da banda—ele só não gosta que nos chamem de punk. Tudo bem. Dave Mustaine [Megadeth] já disse coisas parecidas.  

Crescendo, eu tive minha cota de experiências intensas com o punk. Fui esfaqueado por um skinhead em um dos nossos shows, Dexter foi agredido pela polícia em um show do Dead Kennedys, e participei de tumultos em shows dos Ramones. Eu até testemunhei o grande tumulto dos Ramones no Hollywood Palladium quando o Black Flag tocava.  

Talvez nossa música não seja tão hardcore quanto algumas pessoas gostariam. Nunca afirmei que somos uma banda hardcore, mas acredito que somos punk. Só gostamos de melodia e canto—nosso som é mais Ramones do que Black Flag.  

O punk rock significa coisas diferentes para pessoas diferentes, e está tudo bem.


Em 1994, durante a era “Smash”, há uma história sobre vocês terem recusado uma turnê com o Metallica. É verdade?

Não me lembro de todas as bandas que recusamos, mas com certeza não tínhamos nada contra o Metallica. Amamos aqueles caras—são uma banda incrível. Já os encontramos várias vezes ao longo dos anos e até tocamos juntos desde então.  

Na época, não nos sentíamos prontos. “Smash” nos pegou de surpresa; não esperávamos aquele nível de sucesso. Nosso show ao vivo não estava no padrão que queríamos, então, em vez de abrir para uma grande banda de arenas, escolhemos tocar em clubes menores e nos aprimorar aos poucos.  

Queríamos conquistar nosso espaço como uma banda profissional, e acho que essa decisão valeu a pena. Estamos quase lá—quase uma banda profissional no palco agora. (risos)



Em 2014, o Offspring e o Linkin Park tocaram em um evento beneficente para as Filipinas. Como foi essa experiência, e o que você acha do retorno do Linkin Park com Emily Armstrong nos vocais?

Foi uma experiência incrível, e o Linkin Park fez algo maravilhoso pela causa.  

Sobre a Emily se juntar a eles, acho que foi uma escolha corajosa e fantástica. Algumas pessoas podem resistir à ideia de uma vocalista feminina sem razão, mas a Emily é incrível. Sua voz é fenomenal, e já fizemos turnê com o Dead Sara, então sei o quão talentosa ela é.  

Desejo o melhor ao Linkin Park. Eles são ótimos caras que fazem música excelente, e espero que sejam tão bem-sucedidos quanto antes com a Emily.


Quais artistas novos, relacionados ao rock ou não, chamaram sua atenção recentemente?

Sim, uma banda que me vem à mente é Amyl and the Sniffers. Eles vão tocar com a gente no Brasil, e estou muito ansioso para finalmente vê-los ao vivo. Já cruzamos caminhos algumas vezes, mas sempre acabamos nos desencontrando. Se você ainda não os ouviu, deveria—eles são incríveis.


Quais são seus cinco álbuns favoritos—os que mudaram sua vida ou que você sempre ouve?

É difícil porque eu ouço muita música, mas vou tentar.  

Um dos primeiros discos que mudaram minha vida foi [o compacto] “Nights in White Satin” dos Dickies (1979). É um disco de dez polegadas com apenas três músicas, mas me impressionou muito. Por volta da mesma época, peguei emprestado o “Never Mind the Bollocks” (1977) dos Sex Pistols, e esses dois discos me apresentaram ao punk rock. A energia crua e o poder me cativaram imediatamente.  

O primeiro álbum dos Ramones [“Ramones” (1976)] é outro essencial. Eu o ouvi sem parar por um mês quando o comprei.  

Também tem a coletânea “Beach Blvd” (1979), com Simpletones, The Crowd e Rick L. Rick. É uma mistura de sons pop e punk, e as músicas de Rick L. Rick têm um toque mais agressivo.  

“Dance With Me” do T.S.O.L. (1981) foi outra mudança de jogo. Passei um mês tentando aprender todas as partes de guitarra. Ron Emory [guitarrista] é uma das minhas maiores influências.  

Por último, mas não menos importante, “Fresh Fruit for Rotting Vegetables” (1980) do Dead Kennedys. Faixas como “California Über Alles” e “Holiday in Cambodia” são icônicas. A guitarra surfy e assustadora combinada com os vocais bombásticos é incrível.


Para finalizar, algo pessoal. “Conspiracy of One” foi o primeiro CD que comprei, há 23 anos. Na sua opinião, o que torna esse álbum tão especial na história do Offspring?

Uau, obrigado—isso significa muito. Eu adoro o “Conspiracy of One”. Ele foi lançado em um momento incomum, pouco antes do 11 de setembro, e olhando para trás, o álbum parece estranhamente profético. Ele fala sobre pequenos grupos de pessoas causando mudanças ou destruições massivas, e esse tema ressoa com eventos como o ataque ao USS Cole e, mais tarde, o 11 de setembro.  

Musicalmente, acho que é um ótimo álbum. Fico feliz que tenha um lugar especial para você—tem para mim também. Curiosidade: Ed Sheeran nos contou que foi um dos primeiros álbuns com os quais ele praticou tocar e cantar na frente do espelho. É surreal pensar nessa conexão.  



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