ENTREVISTA: Ian Haugland promete show “incrível” do Europe no Monsters of Rock



Entrevista também disponível em vídeo com legendas.

Assista no YouTube: https://youtu.be/wF86rObg-BY


Poucas bandas conseguem atravessar décadas mantendo não apenas a relevância, mas também a paixão e a energia que as impulsionaram no início da carreira. O Europe é uma dessas raridades. Prestes a desembarcar novamente no Brasil como uma das atrações do Monsters of Rock, o grupo sueco promete incendiar o público com seu hard rock poderoso, clássicos atemporais e uma performance que só a experiência de mais de 40 anos de estrada pode proporcionar. 

Em meio aos preparativos para o festival — e também para um novo álbum de estúdio —, o baterista Ian Haugland conversou com este jornalista sobre as expectativas para o show, a evolução da banda, o legado de The Final Countdown (1986) e os planos para o futuro.

Com bom humor e muita franqueza, Ian relembrou momentos marcantes da carreira, como a turnê com Glenn Hughes no Japão, comentou a recepção dos fãs ao material mais recente do Europe e adiantou que 2026 será um ano de celebrações — com novo disco, documentário e a comemoração dos 40 anos de seu maior sucesso. Mas, antes disso, o Europe se prepara para mais um encontro explosivo com o público brasileiro. “Vai ser incrível”, promete o baterista. E a julgar pelo entusiasmo da banda, ninguém vai sair decepcionado.


Por Marcelo Vieira

Foto: Fredrik Etoall / Divulgação


O Europe já se apresentou no Brasil diversas vezes. Quais são suas lembranças mais marcantes dessas visitas?

Bom, eu diria que tenho lembranças meio misturadas de tudo isso. Sempre que vamos à América do Sul, é tudo muito intenso — as pessoas em cada país são extremamente apaixonadas, e tudo acontece ao mesmo tempo. Então, às vezes é difícil distinguir exatamente o que aconteceu em qual lugar. Mas minha memória geral é sempre muito positiva. O público é super caloroso, vibrante, vive a música intensamente e participa demais dos shows, enlouquece mesmo — e é exatamente isso que a gente espera. Sempre ficamos empolgados com a ideia de voltar à América do Sul para tocar. Vai ser muito divertido voltar.


Dado o line-up tão diverso do Monsters of Rock, como o Europe pensa em montar um setlist que agrade tanto os fãs antigos quanto um público mais amplo?

A gente costuma seguir o coração, sabe? Normalmente, tentamos fazer uma mistura entre os maiores sucessos e alguns lados B que são os nossos preferidos — justamente para apresentar algo diferente para quem talvez não conheça tão bem o som do Europe. Mas quando participamos como banda convidada num festival, por exemplo, é importante tocar as músicas mais conhecidas, porque uma das funções nesse tipo de evento é justamente aquecer o público, deixar a galera no clima. E os clássicos ajudam muito nisso.

Tocar como banda de abertura sempre representa um desafio — você é meio que o azarão da noite. Mas isso também te dá um impulso extra, uma energia a mais para mostrar ao público do headliner do que você é capaz. Já tocamos com o Scorpions, no mesmo festival que o Judas Priest e o Opeth, mas acho que desta vez o pacote está ainda mais bem amarrado. Vai ser incrível.


Ao longo dos anos, o som do Europe evoluiu bastante, e vocês lançaram ótimos álbuns desde Start from the Dark (2004). Mas você sente alguma resistência, especialmente dos fãs mais antigos, em relação a esse material mais recente?

Sim, existe um pouco disso. Alguns fãs mais ligados aos anos 1980 dizem sentir falta do “velho Europe”, e comentam que deveríamos escrever músicas mais melódicas, por exemplo. Mas, para nós, sempre foi fundamental evoluir, não apenas tocar os sucessos antigos, mas nos permitir crescer como músicos e como banda, experimentar novos sons.

Os últimos álbuns têm uma pegada mais voltada para o hard rock com influências de blues. O Walk the Earth (2017), que já tem oito anos, foi bastante inspirado pelas nossas raízes — Rainbow, Led Zeppelin, Deep Purple. E agora estamos compondo para um novo disco que deve ser gravado ainda este ano. Pelo que já ouvimos, esse material novo tem um lado mais melódico, mais próximo da sonoridade clássica do Europe. Então estamos sempre nessa jornada, transitando entre estilos e nuances. Mas diria que, no geral, os fãs são bem receptivos à nossa evolução.


Desde o retorno com Start from the Dark, essa é a maior pausa entre álbuns. Há algum motivo específico para esse intervalo tão longo?

Sim, na verdade temos estado muito ocupados com turnês todos os anos. Recebemos muitos convites para festivais, especialmente na Europa, e isso acabou dificultando encontrar tempo para parar, sentar e compor com calma. Mas o Joey [Tempest, vocalista] e os outros caras vêm escrevendo coisas ao longo dos anos, mesmo que não fosse com um álbum em mente.

Concordo com você, o intervalo foi longo. Mas agora estamos finalizando as demos do novo disco, e as músicas estão ficando ótimas. Na minha opinião, é o conjunto mais forte de composições que já tivemos nessa fase atual. A expectativa é entrar em estúdio em outubro, e o álbum deve sair dentro de um ano.



Em 2026, The Final Countdown completa 40 anos. Já existem planos para comemorar esse marco tão importante?

Sim, com certeza! Provavelmente faremos ainda mais shows do que neste ano. Teremos o novo álbum, o aniversário de 40 anos de The Final Countdown e também o lançamento de um documentário sobre a história da banda, que deve sair nas principais plataformas de streaming. Ou seja, muita coisa nova e comemorativa vai rolar com o Europe no ano que vem. Estamos construindo tudo isso para chegar num grande clímax — e este ano é só o aquecimento.


O que você acha que a música “The Final Countdown” representou para a carreira do Europe?

Acho que “The Final Countdown” é, se não o único, com certeza o principal motivo de ainda estarmos na ativa. É impressionante como uma única música — quatro minutos de som — pode mudar completamente sua vida. E não só a nossa, mas a de tantas pessoas ao redor do mundo. Já encontrei fãs que associam a música a momentos marcantes, como o primeiro beijo, ou alguma conquista importante. Ela já foi usada em eleições, eventos esportivos… de tudo.

É uma música que realmente teve — e ainda tem — um impacto gigantesco. Para a história do Europe, “The Final Countdown” significou tudo. Sem ela, não estaríamos aqui hoje, isso é certo.


E como é tocar essa música hoje, depois de tantos shows? Ainda é especial para você?

Adoro tocar essa música, todas as vezes. Não é como se eu escutasse em casa enquanto lavo a louça, sabe? [Risos.] Mas quando a tocamos ao vivo, é sempre um acontecimento. Como eu disse, ela carrega muitas memórias e desperta muita emoção nas pessoas. Toda vez que começa, é como uma explosão de alegria.

E o mais curioso é que, quanto mais tempo passa desde o lançamento, mais admirado eu fico com a força e a importância dessa música. É incrível. Então, sim, tocar “The Final Countdown” ao vivo ainda é uma experiência fantástica.



Este ano marca o 30º aniversário do álbum Burning Japan Live (1995), do Glenn Hughes, onde você, Jon [Levén, baixista] e Mic [Michaeli, tecladista] fizeram parte da banda de apoio. Quais são suas lembranças dessa experiência?

Foi uma experiência incrível. Fizemos turnê com o Glenn Hughes no Japão e também alguns shows na Europa. Pena que foi uma turnê relativamente curta. Fui chamado para entrar na banda só algumas semanas antes da viagem ao Japão, então tive pouco tempo para aprender todas as músicas — desde clássicos do Deep Purple até as canções solo do Glenn.

Mas, para mim, foi uma grande honra. Glenn era um dos meus ídolos na adolescência. O primeiro disco do Deep Purple que comprei foi o Burn (1974), que virou uma espécie de bíblia musical para mim. Tocar ao lado dele nos anos 1990, executando as linhas de bateria que o Ian Paice — outro ídolo — gravou em músicas como “Burn”, “Stormbringer” e “Lady Double Dealer”, foi algo muito especial.

Foi também uma ótima oportunidade para mostrar ao mundo nosso trabalho como músicos e ganhar reconhecimento. Tenho ótimas lembranças dessa turnê.


Além dos discos com o Europe, seu currículo inclui trabalhos com Baltimoore, Brazen Abbott e Sha-Boom, entre outros. Há algum desses projetos paralelos que você gostaria que os fãs escutassem com mais atenção?

Acho que os álbuns que gravei com o Brazen Abbott merecem esse destaque. Fizemos três ou quatro discos juntos, e outro dia ouvi um deles pela primeira vez em mais de dez anos. Fiquei surpreso com a qualidade da produção, da composição e da performance.

Pensei: “Nossa, será que fui eu mesmo que toquei isso tudo?” [Risos.] Me senti orgulhoso de mim mesmo e do que o Nikolo Kotzev — guitarrista e líder da banda — conseguiu fazer. Gravamos tudo no estúdio caseiro dele, mas o resultado é super profissional. Não sei exatamente o quanto esses álbuns foram bem-sucedidos comercialmente, mas com certeza é um projeto do qual me orgulho muito.


Depois de tantos anos na estrada e incontáveis shows, o que ainda te motiva a subir no palco e tocar bateria com o Europe?

Tocar ao vivo com o Europe é como entrar em campo com seu time de futebol. Quando os cinco sobem juntos ao palco, viramos uma entidade única — nossas forças individuais se unem numa bola de energia e rock and roll. É algo meio mágico.

Toda vez que a gente pisa no palco, parece que uma força invisível toma conta da gente. É difícil explicar, mas acontece sempre. E a gente se diverte muito também. É como se explodisse algo toda vez que os cinco estão juntos tocando ao vivo. É sempre especial.


Além de se apresentar no Monsters of Rock, dia 19 de abril, em São Paulo, o Europe toca em Brasília, no dia 16. Garanta seu ingresso!


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