ENTREVISTA: Timo Kotipelto e Jens Johansson celebram Stratovarius no Monsters of Rock Brasil, conexão com o público e futuro da banda
Entrevista também disponível em vídeo com legendas.
Assista no YouTube: https://youtu.be/n_EcFzmOVOU
Poucas bandas no cenário do power metal podem se orgulhar de uma trajetória tão consistente e apaixonante quanto o Stratovarius. Prestes a desembarcar no Brasil para um show especial na edição de 30 anos do Monsters of Rock, a banda finlandesa promete um setlist recheado de clássicos e surpresas para os fãs brasileiros. Em entrevista a este jornalista, o vocalista Timo Kotipelto e o tecladista Jens Johansson falaram sobre a expectativa para o festival, relembraram momentos marcantes da carreira e refletiram sobre a importância do mais recente álbum, Survive (2022).
Entre risadas e recordações, Kotipelto e Johansson também comentaram a relação intensa com o público brasileiro, revisitaram a era Fourth Dimension (1995) e compartilharam um pouco dos bastidores do processo criativo da banda. Além disso, a dupla falou sobre os desafios de manter a motivação após décadas na estrada e revelou que novas composições já estão tomando forma. Confira a seguir a entrevista completa!
Por Marcelo Vieira
Foto: Divulgação
O Stratovarius será a banda de abertura da edição de 30 anos do Monsters of Rock em São Paulo. O que os fãs brasileiros podem esperar dessa apresentação histórica?
Timo Kotipelto: Bem, posso dizer que estamos extremamente empolgados para tocar nesse festival. É a realização de um sonho! Eu já assisti a vários vídeos de bandas tocando no Monsters e sempre pensei: “Gostaria de tocar nesse festival um dia”. Agora isso está prestes a acontecer! Vai ser um evento incrível!
Jens Johansson: Acho que podemos esperar um público gigantesco, um clima agradável e muito power metal!
TK: Essa resposta foi péssima! [Risos.]
JJ: Sim, a pior resposta de todas! [Risos.]
O público brasileiro é conhecido por sua paixão e energia nos shows de metal. Como vocês enxergam essa relação com os fãs daqui?
TK: Isso é verdade! Jens, você lembra se foi em 1996 ou 1997 a nossa primeira vez no Brasil?
JJ: Acho que foi em 1997.
TK: Sim, 1997. Desde então, em todas as turnês voltamos ao Brasil, e há um motivo para isso: os fãs são incríveis! Sempre é um prazer tocar aqui porque o público é muito caloroso, canta junto e realmente se entrega ao show. É uma experiência única para nós!
Além das músicas do último álbum, Survive, quais clássicos da banda podemos esperar no setlist?
TK: Essa escolha sempre é complicada. Precisamos considerar que, em um festival desse porte, haverá muitas pessoas que não conhecem tão bem nossas músicas, ou talvez nunca tenham nos ouvido. Então, não podemos tocar apenas lados B. Certamente vamos incluir os clássicos do Stratovarius! Quando tocamos na Finlândia, por exemplo, temos mais liberdade para incluir algumas surpresas no repertório. Mas, em um festival, o ideal é um setlist equilibrado, com novidades e grandes sucessos.
JJ: Ainda não decidimos, mas, para um festival desse porte, faz sentido priorizar os maiores hits, músicas que a maioria do público pode reconhecer. Mas só vamos bater o martelo na véspera do show!
Vocês se lembram do show do Stratovarius no Live ‘N’ Louder de 2006?
JJ: Sim, foi muito divertido! Como sempre no Brasil, comemos quantidades absurdas de carne. Lembro que fomos a uma churrascaria e aproveitamos bastante. Mas, no geral, foi um ótimo dia, um show especial.
TK: Esse show foi ao ar livre, não foi? O Sr. Tolkki ainda estava na banda. Mas, sinceramente, não lembro nada do setlist!
Naquela época, a banda passava por uma fase de transição com mudanças na formação. Olhando para trás, como vocês avaliam esse período?
JJ: Isso foi mais ou menos no meio de 2006. Parecia que tudo estava bem, mas, alguns meses depois, o Timo Tolkki decidiu que não queria mais continuar com a banda e resolveu seguir outro caminho. Então, era uma situação estável até deixar de ser. Assim como muitas coisas na vida: está tudo bem, até que não está mais. Mas, naquela época, não havia tensões aparentes, era só mais um festival para nós.
TK: Toda banda tem altos e baixos. Naquele período, nós realmente passamos por uma fase difícil, mas agora estamos subindo novamente. E quando você supera os momentos ruins e vê seu esforço dando frutos, a recompensa é ainda maior. É assim que a vida funciona.
Muitos consideram Survive o álbum mais honesto e épico da banda. Como vocês veem essa avaliação?
TK: É ótimo ouvir isso! Para mim, sem dúvida, é o nosso melhor álbum em 20 anos. Provavelmente está no meu top 3 pessoal. Levamos sete anos para compor essas músicas. Lançamos [quatro] singles no meio do caminho porque a gravadora [earMUSIC] queria material novo, mas a maior parte do tempo foi dedicada a criar esse álbum. Diferente do passado, em que cada integrante compunha uma música sozinho, dessa vez eu, Jens e Matias [Kupiainen, guitarrista] trabalhamos juntos por meses no processo de composição. E acho que valeu muito a pena! Ainda hoje escuto esse álbum com orgulho. É um disco que mantém a essência do Stratovarius, mas ao mesmo tempo tem algo a mais.
O álbum tem um caráter autobiográfico?
JJ: Acho que não. O título faz sentido, especialmente por ter sido lançado logo após a pandemia, quando todos estavam tentando superar aqueles tempos difíceis. Foi algo que pensamos ao escolher esse nome. Mas também pode ter outro significado, como a própria trajetória da banda. De certa forma, Survive é um título aberto, que pode se aplicar a qualquer pessoa que tenha superado desafios.
TK: Para mim, ele tem esses dois significados: a pandemia e o fato de que nós, como banda, também sobrevivemos e continuamos aqui. Desde o início, ficou claro para mim que esse título carregava essa dupla interpretação. Não necessariamente a música em si, mas o nome do álbum, com certeza.
Este ano marca o 30º aniversário de Fourth Dimension. Vocês poderiam compartilhar algumas reflexões sobre esse trabalho?
TK: Claro! Eu entrei na banda em 1994, e o Tolkki já havia composto todas as músicas. Então, cheguei quando eles estavam começando a gravar a bateria – ou talvez já estivessem gravando. Tive cerca de duas semanas para aprender as músicas e escrever as letras. Depois fui direto para o estúdio e gravei os vocais do álbum. Algumas das músicas, na minha opinião, são realmente boas. Semana passada, por exemplo, tocamos uma delas ao vivo – “Distant Skies”. Às vezes, também tocamos “Against the Wind”. Para mim, há algumas músicas clássicas nesse disco.
JJ: Embora eu não tenha participado do álbum, tenho uma história interessante sobre ele. Acho que foi em 1995, talvez no final do ano. Na época, eu morava em Nova York e, por acaso, estava no escritório do então empresário do Dream Theater. Ele tinha recebido alguns CDs pelo correio de bandas que queriam ser gerenciadas pela mesma empresa. Ele colocou um desses CDs para tocar e perguntou: “Você conhece esses caras? Você é sueco, e eles são da Finlândia, que é praticamente vizinha… Já ouviu falar deles?” Eu nunca tinha ouvido falar. Aí ele começou a tocar algumas faixas desse álbum no som dele. Algumas músicas ele não gostou muito, mas eu achei uma delas bem interessante – “030366”, lembro que se destacou por ter uma produção bem peculiar. O começo, com aquele sintetizador, soava meio estranho. Ele não gostou e disse: “O que é isso? Isso dura tempo demais!” Mas eu achei curioso. Mais tarde, quando o Tolkki me procurou, eu já tinha esquecido completamente dessa história. Depois que entrei para a banda, me dei conta: “Caramba! Era a mesma banda!” O mundo é pequeno mesmo.
A turnê brasileira de Timo Tolkki foi cancelada devido a problemas de saúde. Como vocês e os outros membros do Stratovarius reagiram a essa notícia?
JJ: Eu soube um ou dois dias depois. Sempre é preocupante quando a saúde de alguém está em jogo. Mas, no caso dele, provavelmente é mais seguro ficar em casa. Não posso dizer que fiquei feliz com a situação, mas se ele tivesse algum problema sério enquanto estivesse viajando, seria muito pior. Então, acho que ele tomou a decisão certa. Só ele sabe como está se sentindo, mas, sem dúvida, em casa ele está mais seguro.
TK: Sim, e assim que soubemos da situação, postamos em nossas redes sociais desejando a ele uma rápida recuperação. Espero que ele fique bem.
Vocês ainda mantêm contato com ele?
JJ: De vez em quando.
TK: Troquei alguns e-mails com ele este ano, mas não nos vemos há um bom tempo. Moramos em partes diferentes da Finlândia. Vamos ver se ele aparece no nosso show em Helsinque no sábado [8 de março]. Não ouvi nada dele sobre isso, então, se ele não estiver bem, talvez não consiga ir.
Depois de tantos anos na estrada, qual o segredo para se manter relevante, criativo e motivado na cena do metal?
TK: A motivação vem naturalmente quando você sobe no palco e percebe que as pessoas realmente gostam do que você está fazendo. Os últimos anos têm sido incríveis nesse sentido. Tocar ao vivo com esses caras e sentir a energia do público faz tudo valer a pena. Ver os fãs cantando as músicas junto com a gente é motivação suficiente para continuar.
JJ: Concordo. Além disso, acho que organizar bem a parte prática das turnês faz toda a diferença. Quando você tem uma boa equipe lidando com viagens, logística e questões financeiras, evita discussões desnecessárias. Se você começa a brigar por dinheiro ou comida, a coisa desanda. Mas quando esses aspectos estão resolvidos, tudo flui melhor. Planejamento ajuda a manter a banda unida e torna as turnês mais fáceis e prazerosas.
Vocês já estão trabalhando em novas músicas?
JJ: Sim, de leve.
TK: Espero que não demore sete anos de novo! [Risos.] Já temos algumas ideias.
JJ: [Risos.] É, tomara que dessa vez seja mais rápido.
TK: No final do ano passado, eu, o Jens e o Matias nos reunimos e trabalhamos em algumas ideias. Mas ainda não sabemos se elas vão entrar no álbum. O processo é lento, mas já começamos.
Que mensagem vocês gostariam de deixar para os fãs brasileiros, que apoiam a banda há tantos anos?
TK: Muito obrigado! Desde o final dos anos 1990, tocar no Brasil tem sido sempre uma experiência incrível. A energia do público, a forma como vocês cantam junto… É realmente especial.
JJ: Sim, nossa primeira vez no Brasil foi em 1997. Acho que fomos uma das primeiras bandas europeias de metal a ir regularmente para aí. Tivemos cinco shows naquela turnê. Não sei se muitas bandas já estavam indo para o Brasil naquela época. Para mim, foi especial porque também foi a primeira vez que estive no país. Foi insano, fantástico em todos os sentidos. Então, só posso agradecer por quase 30 anos de apoio.
O Stratovarius se apresenta no Monsters of Rock, dia 19 de abril, em São Paulo. Garanta seu ingresso!
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