ENTREVISTA: Todd La Torre fala sobre Queensrÿche no Brasil, turnê Origins e novo álbum



Entrevista também disponível em vídeo com legendas.
Assista no YouTube: https://youtu.be/exu-KjL3rp8 


Prestes a desembarcar no Brasil para uma aguardada apresentação no Monsters of Rock, o Queensrÿche se prepara para um show repleto de clássicos que marcaram sua trajetória no metal progressivo. Em meio à turnê Origins, que revisita os primeiros anos da banda, o vocalista Todd La Torre conversou comigo sobre o que os fãs podem esperar do setlist, sua conexão com o legado do grupo e a empolgação de tocar para o público brasileiro pela primeira vez.

Além disso, La Torre falou sobre os desafios de equilibrar sua carreira solo com a intensa agenda do Queensrÿche, o impacto das primeiras fases da banda no cenário do metal e os planos para o próximo álbum. Com a energia renovada após o sucesso da turnê europeia, a banda promete uma apresentação marcante no festival e já trabalha em novas composições para o futuro.


Por Marcelo Vieira

Foto: Simon Engelbert / Divulgação


Esta será sua primeira vez tocando no Brasil com o Queensrÿche. O que os fãs brasileiros podem esperar do show no Monsters of Rock?

Sim, vamos tocar uma variedade de músicas, incluindo alguns clássicos mais antigos, como “Queen of the Reich”. Também devemos incluir faixas de Operation: Mindcrime (1988), Empire (1990) e talvez Rage for Order (1986), além, possivelmente, de uma música nova. Então, acredito que será um set abrangente, cobrindo os álbuns mais queridos do nosso catálogo.


Como é para a banda fazer parte de um festival tão icônico como o Monsters of Rock?

Estamos muito animados! É incrível finalmente irmos para a América do Sul. O Queensrÿche não toca por lá há 13 anos, então essa será uma grande oportunidade. O festival tem uma energia incrível, com bandas excelentes, e estamos ansiosos para rever amigos e colegas. Mas, acima de tudo, estamos empolgados para tocar para o público brasileiro!


Quais são suas expectativas para quanto ao público brasileiro?

Espero um público muito animado, entusiasmado e participativo, cantando todas as músicas. Sei que os fãs brasileiros são extremamente apaixonados por heavy metal, então acho que será algo incrível. Como essa será minha primeira vez no Brasil, imagino que a vibe seja parecida com a da Grécia, onde o público canta até as linhas de guitarra. Estamos todos muito ansiosos!


A Origins Tour celebra os primeiros trabalhos do Queensrÿche. Como foi a seleção do repertório e qual a importância desses álbuns para o legado da banda?

O Queensrÿche foi uma das bandas pioneiras do metal progressivo, ajudando a moldar um subgênero do metal. Acabamos de finalizar a Origins Tour na Europa, onde tocamos álbuns que não eram executados na íntegra desde 1984. Pensamos que seria incrível tocar o EP [Queensrÿche (1983)] e o primeiro álbum completo [The Warning (1984)], e o público recebeu essa ideia muito bem. Fizemos duas turnês pela América do Norte e depois levamos para a Europa por um mês – e foi um sucesso. Canções como “Blinded” e “Before the Storm” não eram tocadas havia décadas, então foi algo especial.

Ainda não sei exatamente qual será o setlist para os shows na América do Sul, pois isso depende do tempo disponível – pode ser uma hora, uma hora e meia –, mas vamos montar um repertório matador. Aqueles dois primeiros álbuns são extremamente importantes para a banda e para o gênero, além de terem inspirado muitas outras bandas de metal.


Quais são seus álbuns e músicas favoritas do começo da carreira do Queensrÿche e por quê?

Meu álbum favorito do catálogo é The Warning. É difícil escolher uma música específica, mas “Roads to Madness” e “NM 156” são muito especiais. Elas são únicas, cheias de altos e baixos emocionais, não seguem uma estrutura tradicional de heavy metal. Há muitas dinâmicas, harmonias de guitarra incríveis, linhas de baixo e bateria matadoras, e os vocais são desafiadores, cobrindo um enorme alcance vocal. É sempre muito divertido tocar essas músicas.

O público também ama esses discos. Eles trazem lembranças da juventude, do momento em que cada um ouviu essas músicas pela primeira vez. Depois de tanto tempo sem tocar essas canções desde 1984, poder revisitá-las tem sido algo realmente especial.



Você está no Queensrÿche há mais de uma década. Como percebe sua evolução como vocalista e membro da banda?

Desde o começo, me senti muito à vontade. Originalmente, sou baterista, então sempre tive uma visão mais ampla da música, além do papel de vocalista. Isso me ajudou muito no processo de composição, pois posso contribuir com ideias além das melodias vocais.

Além disso, a banda me deu muita liberdade criativa. Eu gosto de escrever letras e também acabo sendo responsável por boa parte do conceito visual da banda – desde cenários de palco até a arte dos álbuns e vídeos. Michael [Wilton, guitarrista] e Eddie [Jackson, baixista] costumam me passar as rédeas nesse sentido, e depois ajustamos juntos.

Me sinto muito grato por estar em uma banda com uma carreira tão longa e que me dá essa liberdade. Como eu era fã do Queensrÿche antes de entrar, acredito que tenho uma perspectiva diferente sobre o que o público gosta e espera da banda. Isso me dá uma conexão especial com os fãs.


Além do Queensrÿche, você também tem sua carreira solo. Como consegue equilibrar as agendas?

É quase impossível! O Queensrÿche faz cerca de 100 shows por ano, então estou sempre viajando. Tentar equilibrar isso com tempo para a família e as tarefas do dia a dia já é um desafio. Ainda temos que escrever novos álbuns entre as turnês.

Quando se trata da minha carreira solo, é ainda mais difícil encontrar tempo. Se eu tenho apenas cinco, sete dias ou até duas semanas de folga, simplesmente não dá para organizar uma turnê solo sem acabar me desgastando demais. Minha voz e meu corpo precisam de descanso.

Sempre digo que sou pago para viajar e toco de graça, porque a parte mais cansativa é estar constantemente na estrada. É muito exaustivo, mas faz parte do trabalho.


Como você mantém um alto nível de performance tanto no estúdio quanto ao vivo?

Durante as turnês, tento falar o mínimo possível. O que mais desgasta minha voz é conversar, então economizo minha energia vocal para o palco.

Não sigo muitas regras rígidas como outros cantores. Posso comer uma pizza e tomar um refrigerante antes do show sem problemas. Nunca bebi álcool, o que acho que me ajuda. Também parei de fumar há dois anos, o que certamente fez diferença para a minha voz.

O mais importante para mim é dormir bem e evitar falar muito. Mas quando estamos em turnê, estamos sempre sujeitos a fatores imprevisíveis: altitude, clima, viagens longas, conviver com várias pessoas no ônibus… Se alguém fica doente, inevitavelmente todos acabam pegando um resfriado ou gripe.

Muita gente grava vídeos em casa até sair um take perfeito, mas estar na estrada é um desafio completamente diferente. Você tem que se adaptar às circunstâncias e ainda entregar uma performance digna todas as noites. Nem sempre sai perfeito – às vezes minha voz não está no seu melhor – mas faz parte. O corpo é o instrumento, e nunca dá para prever 100% como ele vai responder.


Com a recente volta do Crimson Glory, e considerando que você já fez parte da banda, como vê o futuro do grupo e essa nova fase?

Não tenho muito contato com eles atualmente. De vez em quando falo com Ben [Jackson, guitarrista] ou Jeff [Lords, baixista], mas faz anos que não converso com Dana [Burnell, baterista], apesar de termos uma boa relação.

Acho que o novo vocalista [Travis Wills] está fazendo um bom trabalho. Mas o Crimson Glory é formado por músicos que têm trabalhos paralelos, então eles não são uma banda que vai sair em grandes turnês. É mais um projeto paralelo para eles, o que é ótimo.

Quando estive na banda, eu já estava no Queensrÿche ao mesmo tempo, e sabia que queria seguir isso como carreira, não apenas como algo ocasional. Mas o Crimson Glory sempre foi uma banda incrível. Seus dois primeiros álbuns [Crimson Glory (1986) e Transcendence (1988)] são tão bons quanto qualquer coisa do Queensrÿche. Eles também ajudaram a definir o metal progressivo.

Tenho ótimas lembranças da época em que estive com eles. Se não fosse pelo Crimson Glory, talvez eu não estivesse no Queensrÿche hoje, então sou muito grato por essa experiência.


Após a Origins Tour, o que vem a seguir para o Queensrÿche? Podemos esperar um novo álbum em breve?

Estamos compondo um novo álbum. Fizemos uma grande sessão de composição antes da turnê europeia e seguimos nesse processo. Estamos criando músicas, gravando demos, e organizando tudo.

Além disso, há muitos planos de turnês sendo trabalhados, que ainda não foram anunciados. Nossa equipe está montando a agenda para os próximos meses.

Mas a rotina é sempre essa: tocar ao vivo, voltar para casa, forçar-nos a compor mais músicas, lançar um álbum, fazer turnê… e repetir tudo de novo!


O Queensrÿche se apresenta no Monsters of Rock, dia 19 de abril, em São Paulo. Garanta seu ingresso!


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